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sábado, 23 de abril de 2011

O anticomunismo tacanho do Estadão

Reproduzo artigo de Saul Leblon, publicado no sítio Carta Maior:
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Trava-se nas páginas do Estadão uma disputa surda, que avança cabeça a cabeça para definir quem receberá o troféu "Almirante Pena Boto", inspirado no militar que presidiu a 'Cruzada Brasileira Anticomunista' nos anos 50/60.
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Baluarte dos valores 'liberais', que apoiou todos os golpes de Estado no país e na América Latina, com destaque para as campanhas 'jornalísticas' pela derrubada de Getúlio, em 54, de Goulart, em 64 e de Allende, no Chile, em 1973, o jornal exibe dois talentos frescos engalfinhados numa disputa até o pescoço.
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Um sociólogo/geógrafo e um comunicólogo da ECA colecionam credenciais ao panteão do udenismo lacerdista. No futuro, possivelmente, um deles será "o" editorialista do jornal. Um sucessor de Oliveiros S. Ferreira.
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O duelo de titãs enseja versões alternadas de anti-petismo típico dos egressos da esquerda, como é o caso, engajados na expiação pública de um passado convertido em moeda de troca de carreira e bajulação.
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No ano passado, na abertura do 8.º Congresso Brasileiro de Jornais, por exemplo, o sociólogo/geógrafo do Estadão (e também do Globo) denunciou a emergência de "democracias plebiscitárias" na América Latina. No seu entender, elas subtrairiam da imprensa o papel de mediador, para estigmatizá-la como um partido político, "um jogador da política", como qualquer outro.
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"O projeto da tirania plebiscitária", advertiu, "exige a eliminação do mediador, que é, no fundo, a eliminação da opinião pública". Um exemplo dessa ofensiva, segundo o colunista sociólogo, "para eliminar a imprensa e fazer com que o Estado converse diretamente com os cidadãos", seria o Blog da Petrobrás.
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Arrojado? Sem dúvida
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Justiça seja feita, porém, esta semana o comunicólogo e professor da ECA atropelou o sociólogo no derby dos novos vulgarizadores do conservadorismo nativo.
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Seu artigo neste 21 de abril não surpreende pela direção. Trata-se de uma variação na constante de manifestações recentes, mas condensa em uma única cápsula todos os cacoetes, chistes e coágulos tradicionalmente injetados no metabolismo do alvo intolerável da direita: Cuba. Nisso torna-se uma peça superlativa da vulgarização anticomunista.
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O socialismo em Cuba é um produto histórico, uma carpintaria política erigida sob relações de forças brutalmente adversas. Como tal enseja críticas, comporta avanços e desafia a rupturas renovadoras e desassombradas. O VI Congresso, gancho do artigo do comunicólogo, revelou-se uma porta aberta a essa saudável e urgente renovação histórica. Mas não é isso que avulta nas linhas em questão. O que emana ali é a férrea determinação em proclamar o fracasso irreversível da sociedade que ousou afrontar o império para se construir de forma diversa e solidária, a 145 quilômetros de Miami.
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Ignora-se olimpicamente o colapso estrutural decorrente do cerco iniciado em 19 de outubro de 1960, quando a administração Eisenhower impôs um embargo econômico aniquilador contra Cuba, até hoje mantido.
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O articulista prefere elidir esses incômodos. Aliviado da carga histórica, pode patinar o gelo fino do cinismo e carimbar a resistencia anti-imperialista cubana como 'a religião' do regime que nisso se ombrearia -rodopia nosso Baryshnikov dos salões liberais - à demonização norte-americana promovida pelo Estado iraniano.
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Nada como matar dois coelhos a serviço do mesmo minueto conservador. Mas a prioridade é clara.
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No momento em que Cuba abre um ciclo de renovação política, trata-se de subtrair ao povo cubano - à esquerda em geral, sejamos francos, esse é o ponto - a capacidade histórica de se reinventar no socialismo. É nisso que o artigo se credencia como um libelo de anti-comunismo visceral.
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Em nome do mesmo anticomunismo cego, Pena Boto denunciava ao "Globo", em 5 de outubro de 55, que um embrião de soviet germinaria no Brasil se a eleição de Juscelino Kubitschek fosse consumada: 'É indispensável impedir que Juscelino e Goulart tomem posse dos cargos para que foram indevidamente eleitos", convocava o almirante golpista.
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A profilaxia anticomunista fracassou; Boto escafedeu-se; seu parceiro de armas, Carlos Lacerda, exilou-se na embaixada de Cuba, onde teve imediata acolhida do ditador Fulgêncio Batista. A ilha então era um campo indiviso de bordel e miséria, povoado de gente barata integralmente disponível ao repasto dos magnatas norte-americanos. Não por acaso, esse passado de fastígio 'democrático' e relações carnais com o império merece silêncio obsequioso do comunicólogo da ECA que, pelo visto, não rompeu apenas com a esquerda, mas também com a honestidade histórica. 
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Postado no blog do Miro

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