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sábado, 28 de abril de 2012

Crime organizado: Com Veja, Cachoeira quis por fogo na República



247 – O inquérito do Supremo Tribunal Federal sobre as atividades do senador Demóstenes Torres começa a desvendar, também, métodos duvidosos utilizados pela imprensa brasileira para produzir escândalos, como no caso recente do Hotel Naoum, em Brasília, que motivou uma capa de Veja em agosto do ano passado.

De forma colaborativa, internautas, jornalistas e blogueiros de todo o País começam a garimpar o que há de relevante nos milhares de diálogos trazidos a público pelo 247.

Um dos trechos mais impactantes foi descoberto pelo jornalista Luiz Carlos Azenha, do site Viomundo. Nele, Carlos Cachoeira e Demóstenes confirmam que o filme do hotel Naoum, em que José Dirceu é filmado na companhia de nomes como Fernando Pimentel e José Sergio Gabrielli, foi produzido pelo araponga Jairo Martins, do bando de Cachoeira, e entregue ao jornalista Policarpo Júnior, de Veja. O objetivo de Cachoeira era “por fogo na República”,Cachoeira acreditava que conseguiria provar que José Dirceu teria tramado a queda de Antônio Palocci, colocando, assim, o governo Dilma contra o PT. “Aí é ótimo, fantástico”, responde Demóstenes (leia a íntegra do diálogo clicando aqui). Cachoeira tenta ainda se tornar credor de Policarpo ao determinar ao araponga que transmitisse uma ordem ao jornalista. A fita deveria ser pedida a ele.

Fiasco de Veja

A capa de Veja, em que José Dirceu, era retratado como “Poderoso Chefão”, foi antecipada por Reinaldo Azevedo, como a maior denúncia dos últimos anos, e tratada como um escândalo de grandes proporções. O feitiço, no entanto, se virou contra o feiticeiro. No mesmo fim de semana em que a revista circulou, descobriu-se que o repórter Gustavo Ribeiro, subordinado a Policarpo Júnior, havia tentado invadir o quarto de Dirceu.

A reportagem, que transformou o jornalismo investigativo em jornalismo sob investigação, contribuiu para a queda do ex-redator-chefe da revista, Mario Sabino. Pode, agora, contribuir também para a queda do seu sucessor, Policarpo Júnior.

Por mais que Fábio Barbosa, presidente da Abril, lute para evitar a convocação de Policarpo e Roberto Civita, será difícil conter a onda de indignação da opinião pública.

No Brasil 247 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Galdino Pataxó: 15 anos depois de morto, luta de seu povo continua


Itabuna (BA) - Ao invés do mármore frio, os túmulos dos cemitérios da Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu, sul da Bahia, se misturam à mata. Quanto mais velho é o morto, mais a vegetação se espraia sobre a terra. Longe de ser sinal de abandono, para o povo Pataxó Hã-Hã-Hãe é o cumprimento da profecia do ancião Samado Bispo dos Santos, uma das tantas lideranças que empenharam a própria vida na retomada completa do território indígena: sirvo de adubo para essa terra, mas daqui não saio. Num desses lugares sagrados, onde os índios se misturam ao seu bem mais precioso, está Galdino, morto há 15 ano ao ser queimado por cinco jovens de classe média alta num ponto de ônibus da capital do país.

 Galdino é índio Pataxó Hã-Hã-Hãe. De forma tímida, alguns jornais lembraram os 15 anos da morte do indígena, mas sem o atrelar aos episódios recentes no sul da Bahia. O que era para ser uma data simbólica de renovação do compromisso do Estado com os povos indígenas, tornou-se apenas mais uma praça no local em que o índio foi martirizado. Nem mesmo a terra pela qual Galdino lutava em Brasília foi garantida pelas autoridades. Porém, 15 anos depois do assassinato do indígena, estando impunes os que o mataram e invadiram suas terras, o povo Pataxó Hã-Hã-Hãe decidiu por reocupar cada palmo dos 54,105 mil hectares da Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu. Desde janeiro, o número de áreas retomadas passam de 70. Como acontece há quase um século, a caminhada rumo à plenitude do território tradicional é marcada pela violência e criminalização.
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Tropa de Elite
Na entrada do município de Pau Brasil, um grupo da tropa de elite da Polícia Militar baiana, fortemente armado, revista veículos e indaga os ocupantes. Desde o início das retomadas indígenas, Pau Brasil, Itajú do Colônia e Camacan, cidades que abrangem a terra indígena, foram invadidas por pistoleiros, na maior parte das vezes tratados como seguranças das fazendas. São estes jagunços, com armas de grosso calibre, conforme revelou matéria do jornal "Folha de S. Paulo" na edição do dia 21 de abril, que vão para o confronto com os indígenas. Na mesma reportagem, fazendeiros afirmam que pretendiam retirar os indígenas da fazenda para não dar a entender ao Supremo Tribunal Federal (STF), que vota a nulidade dos títulos dos invasores, que a questão já está resolvida. Desde a primeira retomada dos Pataxó Hã-Hã-Hãe, estes ‘seguranças’ já assassinaram em emboscadas mais de 30 lideranças do povo pataxó nos últimos anos. Como ainda restam áreas não retomadas, os pistoleiros contratados pelos fazendeiros ficam pela cidade, ameaçando moradores, ou buscando se entrincheirar nas fazendas em posse dos invasores.
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Se por um lado a pistolagem faz parte do cotidiano dos indígenas, notícias plantadas na imprensa baiana, sobretudo pela Rede Globo, reverberam declarações de líderes de sindicatos rurais dando conta de que os Pataxó Hã-Hã-Hãe são invasores de terras, assassinos e uma ameaça para a vida social e econômica da região. Os indígenas nunca recebem espaço equânime e informações oficiais da polícia que desconstroem as acusações são omitidas. Em conversa informal, a delegada da Polícia Federal de Ilhéus Denise Dias afirma que os policiais nunca comprovaram a existência de reféns nas áreas retomadas pelos indígenas e tampouco as denúncias de sequestros, desaparecimentos e assassinatos de fazendeiros ou trabalhadores rurais. No entanto, é taxativa ao dizer que os dois lados estão armados.
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Lideranças Mortas
“Os índios não mataram nenhum fazendeiro e nenhum pistoleiro. Em todos esses anos de luta, foram mais de 30 lideranças nossas assassinadas. Fizemos o trabalho sem matar ninguém, porque fazemos pelo sangue derramado do nosso povo. Totalmente diferente do que eles contam”, justifica o cacique Nailton Muniz Pataxó Hã-Hã-Hãe. O povo possui mais de um cacique e Nailton é um dos mais antigos. Ele lembra do massacre sofrido por seu povo para justificar a recente onda de retomadas: “Sentimos também o desejo de políticos nas nossas terras e isso acumulou em nós a preocupação de nunca mais a termos. Fora o projeto de uma hidrelétrica no rio Pardo. Nós sabemos que se for realizada essa construção, uma parte importante da nossa terra se perderá”, pontua. Não se esquece de Galdino e de outros mortos na luta pela terra: “Completa agora 15 anos da morte de Galdino. Queria ter aqui a alegria de estar em paz em nosso território. Queria ver os assassinos do Galdino e de outras lideranças presos. Queríamos prender o fazendeiro que castrou o índio Djalma, que arrancou suas unhas, arrancou os dentes, o couro cabeludo, que o fez engolir os testículos e um quilo de sal até morrer”.
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Cacique Ilza Rodrigues da Silva salienta que as ocupações foram pacíficas, mas a postura dos jornais e das elites agrária e política é de criminalizá-los. A Polícia Federal acompanha de perto as ações, assim como a Fundação Nacional do Índio (Funai) está sempre nas retomadas. A comunidade indígena, conforme Ilza, é bem vista pela população de Pau Brasil, um dos rebolos do conflito, porque sabe que os indígenas são importantes para a cidade. “Acusam os índios de praticar mortes, como a de Ana Maria que foi pelas mãos dos pistoleiros. Queremos que investiguem. Os fazendeiros dizem que são seguranças: eu penso que segurança é a polícia, o que tem ali são pistoleiros. Não queremos tirar a vida de ninguém, não temos esse direito. O direito que nós temos é sobre a terra. À vida todos têm direito, assim como nós índios”, diz.
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A situação de ocupação do território pelos indígenas nunca é fixa. Algumas fazendas retomadas foram recuperadas pelos pistoleiros, sobretudo na região do rio Pardo. O que é certo é que não há mais fazendeiros, trabalhadores ou gado nas áreas. Conforme o cacique Gerson de Souza Melo, dos 54 mil hectares, ao menos 50 mil estão na posse dos indígenas. Por isso os conflitos são permanentes, caso do indígena baleado na perna enquanto pescava numa das fazendas, do incêndio no pasto em área retomada pelos indígenas e de um caminhão de fazendeiro também incendiado.
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Memória e resistência
Como num eclipse alinhando a terra, o sol e a lua, outras datas se somam aos 15 anos da morte de Galdino e representam a memória usada pelos indígenas para, desde 1º de janeiro deste ano, tocarem uma série de retomadas que garantiram a ocupação de quase a totalidade das áreas invadidas por fazendeiros desde a década de 1940. Tais invasões foram facilitadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que passou recibos de arrendamentos de lotes da terra indígena aos latifundiários, mesmo com ela demarcada e já da União. Duas décadas depois, nos anos 1960, a ocupação irregular motivou o então governador baiano Antônio Carlos Magalhães a emitir títulos de posse ilegais aos ‘proprietários’ para ‘legalizar’ a situação dos invasores. A justificativa era de que naquela região os índios estavam extintos. São esses títulos que estão em votação pelos ministros do STF, que decidirão se eles são válidos ou não. O processo corre desde 1982, ou seja, há 30 anos.
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No último dia 20 de abril, os Pataxó Hã-Hã-Hãe trouxeram à memória do povo os 20 anos da morte da índia Barretá, retirada da condição de isolamento pela equipe de atração de José Brasileiro, homem do SPI no Posto Indígena Caramuru que coordenou o arrendamento da terra indígena. Barretá falava a língua Pataxó Hã-Hã-Hãe e antes de morrer, já com idade bem avançada, deixou uma cartilha oral, subsídio usado nas tentativas de se recuperar a fala do povo. A índia foi retirada da mata à força ao lado de outros índios, entre eles Onhak, Zé Índio, Maria Butx e Txitxiá. Juntos viviam numa aldeia chamada Pedra do Couro Danta, na base de um grande rochedo. A área estava dentro das 50 léguas em quadra (mais de 200 mil hectares) proposta inicialmente pelos trabalhos fundiários de 1926, que a demarcação de 1936 reduziu para 54 mil hectares e deixou de fora a aldeia. A violência na região, portanto, atende aos casos mais clássicos de massacres cometidos contra as populações indígenas nas Américas.
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Rancho Queimado
O cacique Nailton, como todos na Terra Indígena Caramuru-Paraguassu, desde pequenos convivem sob esse estigma. Nailton nasceu numa aldeia chamada Rancho Queimado, que tem esse nome pelo fato de que no lugar foi construído um rancho para os marcadores delimitarem a terra indígena, em 1926. Os fazendeiros atearam fogo na moradia e daí surge a denominação da aldeia. Apenas dez anos depois os trabalhos foram retomados. Iline Brasileiro da Silva lembra o período posterior à demarcação. Durante a década de 1940 ele viveu no posto indígena ao lado de seu pai, José Brasileiro. “O SPI mandava arrendar as terras. Foram muitas mortes mesmo. Todo fazendeiro era arrendatário e os que não eram meu pai expulsava”, lembra Iline numa esquina pacata de Itaju do Colônia.
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Era um tempo, de acordo com depoimentos deixados por Barretá, em que os indígenas chamavam seus algozes, fossem da SPI ou fazendeiros, de papai. “Ela dizia que os castigavam amarrando-os na árvore (que está na aldeia até hoje) sob o sol, com espancamentos e davam sal para eles comerem. Nesse sofrimento, os índios choravam e chamavam: papai, papai, papai. Tudo isso justifica retomarmos o que é nosso e foi roubado com muito sofrimento do nosso povo”, ataca o cacique Reginaldo Pataxó Hã-Hã-Hãe.
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Ele aponta a aldeia Barretá como o marco zero da posse dos indígenas sobre o território, pois ali foi montado o Posto Indígena Caramuru, foram feitas as atrações e dali as medições da terra partiram. Ele explica que o objetivo das retomadas não é só para garantir a posse da terra, mas também as riquezas naturais que existem já reduzidas pela ação depredatória da pecuária. “Nos preocupamos em reocupar a área até que o STF julgue. Assim podemos garantir que as terras estejam em nossas mãos. Queremos garantir aos nossos filhos a posse da terra e a recuperação das riquezas naturais”, define. Reginaldo salienta, no entanto, que as retomadas trouxeram ameaças e hoje não se pode caminhar pelos municípios do entorno.
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“Esses dias saiu matéria de demissões no comércio e usaram um lugar que já estava fechado há muitos e muitos anos. Dados do IBGE de 2010 mostram que os índices sempre foram baixos em Itjau do Colônia, por exemplo. O município vive de receita do governo federal e não tem nada que cria receita. Há sim um latifúndio criador de gado; esses bois não ficam no município e tampouco trazem recursos. Com essas terras em nossas mãos, vamos gerar renda para o município, porque defendemos a diversidade e a não exploração capitalista das terras. Com fé em Tupã vamos vencer”, ressalta.
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Depoimento: ameaças de morte e medo
Cacique Gerson Pataxó Hã-Hã-Hãe: 
“Eu já fui sequestrado por fazendeiro, preso duas vezes, saí em porta mala de fusca da cidade. Depois que me elegi vereador, o carro da Funai que me levava para as sessões e buscava. Foi atacado e ficou crivado de tiros. Tem um pistoleiro chamado de Remilson e mandou recado dizendo que só sai da área quando estourar minha cabeça. Já me caçaram na estrada. Corro risco de morte. Isso já vem de muitos anos. Eu estou com medo de morrer”.
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“A violência aumentou. Não deixam nem o carro pipa entrar na área para trazer água para a comunidade. Estamos com 1.200 alunos sem estudar, porque não podem sair da terra indígena. Esperamos que o julgamento saia logo. A terra da gente foi demarcada em 1936. Essa ação que está no supremo é para julgar nulidade de título, não a demarcação. Então, como é que o STF vai julgar como legítimo os títulos se a terra é da União? Como o governo da Bahia dá título de uma terra que não é dele? Pedimos aos ministros que pensem nisso”.
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As declarações são ainda mais contundentes quando se observa o tempo levado para a decisão da Justiça. No processo do STF está claro: dos 396 réus do processo, 336 já foram indenizados. A maioria não possui títulos de posse e já foram até indenizados pela Funai. Além disso, quatro perícias foram feitas e que comprovaram a ocupação nos 54,105 mil hectares. “Numa das fazendas do Durval Santana que ainda não retomamos está um dos marcos”, se indigna Gerson. O sentimento se expande aos outros caciques. Caso do jovem Josivaldo Reis dos Santos.
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“Aqui queremos a terra. Índio não quer casa bonita, sede de fazenda. Queremos a terra, que é nossa. Somos um povo de raízes e aqui é nossa casa. Perto dos dez anos de idade começo a lembrar de muita gente que morreu. Samado, meu avô, foi preso pelos homens de Geno (primeiro fazendeiro de quem os indígenas retomaram terras) e trancado dentro de um banheiro cheio de imundices. Isso é considerado tortura hoje em dia. Os mais velhos correram longas datas pelo mato para fugir de pistoleiros”, afirma Josivaldo.
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terça-feira, 24 de abril de 2012

Os desafios da esquerda na gestão municipal, segundo Pochmann

O presidente do Ipea, Márcio Pochmann, e o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, vão concorrer às prefeituras de Campinas e São Paulo, respectivamente, por interferência direta do ex-presidente, e dentro de um projeto de mudança no perfil de um partido que, para Lula, esgotou o ciclo que vai de sua criação até a ascensão social de grandes massas da população não organizadas. 
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São Paulo - A intervenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições dos dois mais importantes municípios paulistas - São Paulo, capital e Campinas – tem um objetivo que transcende o pleito de outubro. Lula colocou em andamento uma estratégia que consiste em oxigenar o PT via seu núcleo paulista, estruturado a partir dos movimentos sindicais dos anos 80, e trazê-lo para uma realidade de democracia consolidada no país, mas de onde emerge uma classe desgarrada do sindicalismo, das associações de base ou da militância em movimentos sociais.
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Essa visão dos desafios que o partido terá que enfrentar para se adequar a esse novo ciclo político foi exposta por Lula ao economista Márcio Pochmann, no ano passado, quando o chamou para conversar sobre a possibilidade de aceitar a candidatura petista à prefeitura de Campinas. Simultaneamente, Lula investiu no seu ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, para que assumisse igual papel, em outubro, na disputa pela prefeitura da maior cidade do país e da América Latina, São Paulo.
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Pochmann e Haddad têm biografias parecidas. Ambos, muito jovens, estavam nas articulações que resultaram na fundação do PT. Os dois, em algum momento, tornaram-se quadros intelectuais do partido, ao seguirem carreira acadêmica. Ambos integraram a administração de Marta Suplicy (2001-2004) - Pochmann comandou a pasta do Trabalho e Haddad foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças, cujo titular era João Sayad. Haddad foi ministro de Lula; Pochmann assumiu, em 2007, a presidência do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). 
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Ambos podem ser enquadrados na classificação de "técnicos", por terem feito carreiras mais ligadas à academia do que à política institucional, mas não há como negar que, também por essas qualidades, foram parte e articuladores de políticas de gestão pública importantes.
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"O PT é muito grande e terá candidatos a prefeitos de diversas origens. Haddad e eu somos os únicos que viemos do sistema universitário e com experiências mais intelectuais", afirmou Pochmann, em entrevista à Carta Maior. A escolha de dois acadêmicos que tiveram experiências na gestão pública federal, na opinião do pré-candidato em Campinas, é uma inversão na ideia de que uma prefeitura é apenas o início de uma carreira política: o espaço municipal é retomado como um elemento fundamental para o êxito de políticas públicas. “O sucesso do governo federal em políticas públicas decorre de experiências exitosas de prefeituras, como os bancos populares municipais, o orçamento participativo, políticas de distribuição de renda e o próprio Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirma Pochmann.
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O movimento municipalista dos anos 70 e 80, se foi fundamental para a inovação da gestão, vive hoje uma fase de esgotamento, pela “pasteurização das políticas públicas”, afirma o economista. As inovações daquele período foram absorvidas indistintamente pelas administrações municipais, independentemente dos partidos políticos a que pertenciam os gestores. Pochmann acredita que desafio para ele e Haddad é propor um novo ciclo de renovação de políticas públicas, numa realidade econômica em que o país tem uma melhor distribuição de renda e adquire maior importância no cenário internacional.
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Pochmann, que se intitula da “esquerda democrática, que tem como valor fundante a radicalização da democracia”, considera que essa vertente ideológica tem desafios próprios. O primeiro deles é o de reconhecer “um certo esgotamento da experiência democrática representiva” e, a partir daí, avançar e propor novos instrumentos de participação da população na gestão municipal. Um avanço seria associar os conselhos municipais, que hoje existem em todas as áreas da administração, a orçamentos participativos territorializados. “Hoje há áreas geográficas enormes, com grandes populações, e a ideia de um município centralizado na prefeitura, em um único espaço, distancia a participação popular”, afirma o presidente do Ipea.
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Outro desafio, segundo o pré-candidato, será lidar com cidades que tiveram uma forte experiência industrial e hoje se transformam em municípios de serviços. A cidade industrial empurrou as pessoas mais pobres para as periferias e comprometeu uma grande parte do tempo das pessoas com todos tipos de deslacamento. A cidade de serviços, com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, não pressuporá grandes deslocamentos “se houver uma mudança da centralidade da cidade”. O novo modelo é aquele em que o trabalho e a residência são mais próximos, “com forte presença do espaço público e da educação, que é o principal ativo dessa sociedade”, diz Pochmann.
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O outro grande desafio é a alteração na demografia das grandes cidades brasileiras. “Estamos vivendo uma transformação importante na queda da fertilidade brasileira e em duas décadas teremos uma regressão absoluta no número de habitantes e um aumento na proporção de pessoas idosas”, observa. Esta é uma realidade para a qual o país não está preparado. “Vão sobrar escolas, haverá uma mudança no perfil profissional da população e será uma sociedade de jovens e adultos muito complexa, com forte dependência do conhecimento”.
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Maria Inês Nassif
No Carta Maior

O colonialismo liberal europeu mostra a sua face

É o cúmulo do absurdo que o Parlamento Europeu, que reúne representantes do povo, se preste a votar uma resolução contra a Argentina, em defesa dos interesses de uma multinacional 

Por Eduardo Febbro, de Paris [20.04.2012 14h00]

Publicado por Carta Maior
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Os impérios do Ocidente estão nervosos. A decisão da presidenta argentina de renacionalizar os recursos petrolíferos do país reativou nos europeus o ímpeto da ameaça e da desqualificação, assim como a política dos valores em escala variável. O santo mercado tem prerrogativas acima de qualquer oposição. Além da agressiva campanha que se desatou na Espanha em defesa de uma companhia que, na realidade, sequer é espanhola, a União Europeia somou seus votos em respaldo à multinacional. A inesgotável e esgotadora responsável pela diplomacia da UE, Catherine Ashton, advertiu que a decisão argentina “era um muito mau sinal” para os investidores estrangeiros. Por sua vez, o presidente da Comissão Europeia José Miguel Barroso, disse que estava muito “decepcionado” pela medida de Buenos Aires. 
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O vice-presidente da Comissão Europeia, o italiano Antonio Tajani, sacou um leque de ameaças: "Nossos serviços jurídicos estudam, de acordo com a Espanha, as medidas a adotar. Não se exclui nenhuma opção", disse. Cúmulo do absurdo, o Parlamento Europeu de Estrasburgo, que reúne os representantes do povo, se presta a votar uma resolução contra a Argentina. 
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Um traço mais da confusão que leva a uma instituição política, surgida do voto popular, a clamar pelos interesses de uma multinacional. O Parlamento Europeu nada fez para denunciar as empresas do Velho Continente que, em nome da segurança jurídica, investiam e investem seus capitais em países amordaçados por regimes assassinos que, ao mesmo tempo que ofereciam segurança jurídica aos investidores, jogavam seus povos no poço da repressão, da corrupção, do assassinato das liberdades e da pobreza. A defesa dos interesses nacionais contra os do mercado é algo que ficou na garganta da muito liberal União Europeia. 
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A UE revisitou seus “valores” recentemente, no ano passado: em troca da ajuda aos países árabes, a UE pede eleições democráticas, luta contra a corrupção, abertura comercial e proteção dos investimentos. Antes, não lhe importava que um punhado de ditadores e autocratas esmagassem seus povos enquanto a abertura comercial e a proteção dos investimentos estivessem garantidas. A fonte da democracia fechava os olhos enquanto suas empresas pudessem operar a seu bel-prazer. 
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A mesma dupla linguagem, duplo valor, envolve a escandalosa política das subvenções agrícolas da UE. Instrumento de destruição dos mercados, perverso mecanismo de falsificação dos preços internacionais, as subvenções se aplicam em apoio a uma corporação, a dos agricultores. Pouco importa que o planeta pague pela proteção de um setor. O porta-voz do Comissário Europeu para o comércio, John Clancy, disse ao canal EuroNews que a decisão da presidenta “destrói a estabilidade que os investidores procuram”. 
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Tocar numa empresa europeia é sinônimo de uma declaração de guerra ou de pisotear a identidade. Hoje reúnem o Parlamento Europeu, em outras épocas talvez tivessem enviado a marinha para bloquear o porto de Buenos Aires como ocorreu em 1834, quando Juan Manuel de Rosas se negou a que os súditos franceses ficassem isentos de suas obrigações militares e decidiu impor um gravame de 25% às mercadorias que chegavam do exterior com destino a Buenos Aires.
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A imprensa europeia e os analistas propagam um cúmulo alucinante de omissões e mentiras. Frases como “nacionalismo petroleiro” ou “tentação intervencionista” do Estado argentino, se tornaram uma consigna repetida em todas as colunas. Como se qualificaria então a defesa de uma empresa por parte das instituições políticas da União? Euro-nacionalismo de mercado, escudo político para os interesses privados, etnocentrismo liberal? 
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E, assim mesmo, o discurso do nacional contra o global, do local contra o multilateral não é uma exclusividade peronista. O próprio presidente francês, Nicolas Sarkozy, o reativou com um vigoroso discurso durante a campanha eleitoral para as eleições presidenciais do dia 22 de abril e seis de maio (primeiro e segundo turno). O presidente candidato propôs renegociar o acordo de Schengen que regula e garante a livre circulação das pessoas e revisar os acordos comerciais que ligam os 27 países membros da União Europeia. 
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No primeiro caso e por razões claramente eleitorais, Sarkozy considera que os acordos de Schengen não permitem regular para baixo os fluxos migratórios. No segundo, que tem dois capítulos, se trata primeiro de instaurar na Europa um mecanismo similar ao Buy Act American com um “Buy European Act” a fim de que as empresas que produzem na Europa obtenham dinheiro público em caso de licitações. Em segundo lugar, Sarkozy exigiu à Comissão Europeia que imponha um critério de reciprocidade a seus sócios comerciais. Sarkozy disse em seu discurso: “A Europa não pode ser a única região do mundo que não se defende. (…). Não podemos ser vítimas dos países mais fortes do mundo”. 
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Isto pode ter vigência também para o resto do planeta. O patriotismo europeu bem vale o suposto “patriotismo petroleiro”. Ali onde se encontra em desvantagem, a UE impõe seus limites, ativa seu lobby ou bota suas instituições democráticas a atuar como polícia moralizadora. O livre comércio e o direito monárquico das empresas sobre os recursos naturais, a vida humana e as geografias não é o último estado da humanidade. Há vida depois de tudo, antes e depois da Repsol. 
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Todo o aparato jurídico da UE se colocou em marcha para sancionar isso que o jornal espanhol El País chama “o vírus expropriador” de Cristina Fernández de Kirchner. O “vírus” do mercado global começa a fazer seu trabalho. A UE está ofendida. Tocaram em seu filho pródigo, a liberdade de brincar com o destino dos povos em benefício de suas empresas. Uma guerra moderna onde o gigante vai sancionar um sócio que deixou de apostar em um tabuleiro onde só ganham os capitais que se volatilizam como os valores democráticos e de justiça que defenda a sacrossanta União. Seu hino à liberdade é geométrico. Enquanto a grana encha seus bancos, o sangue pode correr, como na Tunísia, Líbia, Egito e tantas outras ditaduras africanas que proporcionam o petróleo para acender as luzes de um século cujo destino está em mãos privadas e suas instituições às ordens das entidades financeiras e das empresas. 
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Tradução: Libório Junior
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domingo, 22 de abril de 2012

Da Servidão Moderna - Jean-François Brient


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Corrupção na imprensa brasileira é alarmante

Mais peças do quebra-cabeças Civita-Cachoeira

A Folha tem dois bravos repórteres – Cátia Seabra e Rubens Valente – lutando com um braço amarrado. É isso que explica o fato do lide da matéria sobre Cachoeira (a informação mais importante, que deveria estar na abertura) ter ficado no pé:
"Em conversas no primeiro semestre de 2011, Cachoeira disse a Claudio Abreu, diretor da Delta no Centro-Oeste, que estava fornecendo informações sobre irregularidades no Dnit para a revista "Veja" durante a apuração de uma reportagem".
Na verdade, a Folha (e a Globo) têm muito mais que isso. Pelas matérias divulgadas, a Globo teve acesso às gravações do Guardião – a máquina de grampo da Polícia Federal. A Folha tem acesso a relatórios da Operação Monte Carlo, provavelmente do material reservado que está no Supremo Tribunal Federal (STF), envolvendo o senador Demóstenes Torres e dois deputados federais.
Nesse relatório existem informações relevantes sobre a relação Veja-Cachoeira – que a Folha ainda não deu.

O primeiro, a íntegra das conversas entre Cachoeira e e o diretor da Delta, Cláudio Abreu, comprovando que estavam por trás da denúncia da 
Veja. O segundo, as negociações da Veja, Cachoeira e o araponga Jairo para combinar a invasão do Hotel Nahoum - na qual foram feitos vídeos ilegais de encontros do ex-Chefe da Casa Civil José Dirceu com políticos e autoridades.
A matéria da Veja sobre o DNIT saiu em 3 de julho de 2011. A diretoria estava atrapalhando os negócios da Construtora Delta. Foi o mesmo modo de operação do episódio dos Correios: Cachoeira dava os dados, Veja publicava e desalojava os adversários de Cachoeira.
Coincidiu com investigações que já estavam em curso na Casa Civil, alimentando algumas versões de que o próprio governo vazara os dados para a revista. Fica claro que era Cachoeira.
No dia 8 de julho, as escutas captaram a seguinte conversa de Cachoeira:
Cachoeira: Não. Tá tudo tranquilo. Agora, vamos trabalhar em conjunto porque só entre nós, esse estouro aí que aconteceu foi a gente. Foi a gente. Quer dizer: mais um. O Jairo, conta quantos foram. Limpando esse Brasil, rapaz, fazendo um bem do caralho pro Brasil, essa corrupção aí. Quantos já foram, rapaz. E tudo via Policarpo.
A partir da divulgação da íntegra do relatório e das escutas, será possível entender alguns dados relevantes das negociações entre as duas organizações – a de Cachoeira e a de Roberto Civita.
Nas negociações sobre o DNIT, Policarpo se compromete a dar matéria em defesa do Bingo Online. A matéria do Bingo Online acabou não saindo na Veja (apenas no Correio Braziliense, em matéria de Renato Alves).
Provavelmente foi o não cumprimento do acordo que levou Cachoeira a se queixar amargamente de Policarpo e a aconselhar os comparsas a não passarem informações de forma descoordenada. Nas conversa, aliás, ele confessa ter sido ele quem aproximou os arapongas da revista Veja.
Cachoeira: Não, Jairo, foi isso não. Deixa eu falar pra você. Se Dadá estiver aí pode pôr até no viva-voz. Olha, é o seguinte: a gente tem que trabalhar em grupo e tem que ter um líder, sabe? O Policarpo, você conhece muito bem ele. Ele não faz favor pra ninguém e muito menos pra você. Não se iluda, não. E fui eu que te apresentei ele, apresentei pro Dadá também. Então é o seguinte: por exemplo, agora eu dei todas as informações que ele precisava nesse caso aí. Por que? É uma troca. Com ele tem que ser uma troca.

"É chegada a hora de investigar os bandidos infiltrados na mídia"




Os gays e a Bíblia

por Frei Betto, em Amai-vos

É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.

No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as "pessoas diferenciadas".).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).

No 60º aniversário da Decclaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela "despenalização universal da homossexualidade".

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.

A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que "quem ama conhece a Deus" (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama.).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?

Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os "eunucos de nascença" (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.

Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.
Vi o Mundo

terça-feira, 17 de abril de 2012

Para não investigar as ligações criminosas Demóstenes-Cachoeira, a Veja vem de "mensalão"

por José Dirceu

É mais do que sintomático o comportamento da Veja, cuja matéria capa desta semana tenta tirar os holofotes das gravíssimas denúncias em torno do esquema criminoso comandado pelo contraventor e empresário Carlos Cachoeira, com tentáculos em esquemas de governo e no qual estão envolvidos políticos de diversos partidos, muito especialmente os da oposição.


Para desviar o foco das investigações e da mobilização pela instalação de uma CPI no Congresso Nacional, a Veja vem com a tese de que o PT quer usar a CPI para investigar as ligações entre Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM, hoje sem partido) e outros políticos para encobrir o chamado “escândalo do mensalão”. E para que os envolvidos não sejam julgados.

Nada mais falso. Eu sou réu neste processo e sempre disse que quero ser julgado para provar a minha inocência. O que a Veja quer fazer, secundada por outros veículos da grande mídia, é transferir ao PT o seu
modus operandi de jogar poeira nos olhos dos leitores para turvar a realidade, desviar o foco e anestesiar os fatos para construir a pauta política que lhe convém. No caso, tenta, desde 2005, quando eclodiu o escândalo do uso de recursos de caixa dois para pagar dívidas de campanha de partidos da base do governo Lula, transformar o crime eleitoral em crime político de compra de votos de congressistas em matérias de interesse do governo. E segue ignorando os autos do processo.

Pressão aos juízes

O que ocorre agora é mais um movimento dessa campanha, centrada na pressão aos juízes do STF para um julgamento político do “mensalão”, no lugar de um julgamento baseado em fatos e provas. Nada de novo, com o agravante de que, ao trazer o escândalo do “mensalão” para o centro dos debates tentando atropelar o julgamento do processo, tem claramente o interesse de confundir o público e tirar os holofotes do escândalo da ligação de Cachoeira com o senador Demóstenes, e da cadeia de interesses dela decorrente.

Só para lembrar: o caso do mensalão emergiu dentro do escândalo Cachoeira-Demóstenes pelo fato de o ex-prefeito de Anápolis, Ernani José de Paula, ter denunciado que a gravação de entrega de propina nos Correios em 2005 – que deu origem à CPI dos Correios e ao mensalão – foi patrocinada pelo esquema de Cachoeira.


Na esteira dessa gravíssima denúncia de relações e contaminação da máquina pública por interesses privados e criminosos, uma triste constatação. A de que alguns órgãos de imprensa, onde se destaca a Veja, pretensa guardiã da ética e bons costumes das elites, serviram-se de informações engendradas no esquema criminoso de Cachoeira para produzir matérias denuncistas. Que fatídica aliança! Com esta matéria de capa, a Veja tenta livrar sua própria pele e escamotear seus métodos de fazer jornalismo que atentam contra a ética da profissão; em suma, contra a democracia.
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domingo, 15 de abril de 2012

Estudo analisa articulação de empresários pró-golpe de 64

Dissertação de Mestrado defendida na PUC-RS por Thiago Aguiar de Moraes analisa a articulação de empresários gaúchos em torno do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Rio Grande do Sul (IPES) e da revista "Democracia e Emprêsa" e a tentativa de construir um “consenso intra-classe”, iniciativa que contribuirá para a eclosão do golpe de 1964 no Estado. O IPESUL era uma das seções regionais dos Institutos de Pesquisa e Estudos Sociais (IPÊS) centrais, localizados no Rio de Janeiro e em São Paulo, que desencadearam uma campanha de desestabilização do governo de João Goulart a partir de 1961 e contribuíram para a sua deposição.
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Marco Aurélio Weissheimer
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Porto Alegre - “Entreguemos a emprêsa ao povo antes que o comunista a entregue ao Estado”: os discursos da fração “vanguardista” da classe empresarial gaúcha na revista “Democracia e Emprêsa” do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Rio Grande do Sul (1962-1971). Esse é o tema da dissertação de mestrado em História defendida recentemente por Thiago Aguiar de Moraes na PUC-RS, sob orientação do professor Helder Volmar Gordim da Silveira.

A dissertação analisa a articulação de empresários gaúchos e a tentativa de construir um “consenso intra-classe”, iniciativa que contribuirá para a eclosão do golpe de 1964 no Rio Grande do Sul. Conforme Thiago de Moraes assinala na introdução, o IPESUL era uma das seções regionais dos Institutos de Pesquisa e Estudos Sociais (IPÊS) centrais, localizados no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Os diversos IPÊS, formados por civis e militares, desencadearam uma campanha de desestabilização do governo de João Goulart a partir de 1961 e contribuíram para a sua deposição. Em 1964, muitos ipesianos ocuparam cargos de alto escalão no aparato estatal”. A dissertação também registra a relação entre esse grupo de empresários e a Igreja Católica no Estado.

O IPESUL foi criado em março de 1962 com o objetivo de “difundir a ideia da humanização do trabalho, harmonia entre empregador e empregado e democratização do capital da empresa para os trabalhadores”. O instituto começou a publicar, em 1962, uma revista mensal chamada Democracia e Empresa que circulou até 1971 (em 1970 mudou seu nome para “Desenvolvimento e Empresa”). Neste período foram publicadas 43 edições com um total de 571 artigos. A publicação tinha como objetivo “difundir uma nova mentalidade empresarial para que fosse possível defender a democracia contra o comunismo”. Isso era feito também por meio da produção e distribuição de críticas ao governo de João Goulart e seus apoiadores.

A dissertação mostra como “o IPESUL participou ativamente da conspiração golpista pela deposição de João Goulart e continuou atuando durante a ditadura civil-militar”.


A criação do IPESUL e seus fundadores

Apresentamos a seguir um resumo da investigação histórica de Thiago de Moraes, na parte relativa à criação do instituto e aos seus principais fundadores.

O IPESUL foi criado no dia 23 de março de 1962, no Salão de Reuniões da Associação Comercial de Porto Alegre, localizada no 6º andar do Palácio do Comércio, em uma assembleia presidida por Antonio Jacob Renner. A entidade foi fundada com um Conselho Orientador, formado pelos sócios fundadores, e tinha 29 pessoas, em grande parte empresários importantes na economia do Rio Grande do Sul. Havia representantes de cada uma das principais forças econômicas do estado naquele momento. Alguns dos principais eram:

Álvaro Coelho Borges: era presidente da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul) e da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA). Fez parte de empresas como a Moinhos Rio-grandenses S.A., a Bunge & Born, a Fundição Minuano S. A., a José Berta S. A. Export. e Import., e a Comercial Técnica Export. e Import. Foi uma das principais lideranças do instituto.

Antônio Saint-Pastous de Freitas: Médico e pecuarista, foi membro da Academia Nacional de Medicina e reitor da Universidade do Rio Grande do Sul, futura Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1943-44. Foi presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) de 1961-1963.

Carlos Osório Lopes: foi pioneiro da área de radiologia no Brasil, fundador do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) em 1948 118 e criador do consultório de radiologia CROL, em Porto Alegre.

Paulo Barbosa Lessa: Foi diretor e professor da Faculdade de Direito da PUCRS a partir de 1964 e livre docente da Faculdade de Direito da UFRGS. Além disso, tornou-se desembargador do Tribunal de Justiça em 1966. Suas relações com os meios de comunicação de massa provavelmente auxiliaram o IPESUL a cumprir seus objetivos.

Fábio Araújo Santos: presidente da J. H. Santos S/A Comércio e Indústria, empresa de seu pai onde já trabalhava. Foi presidente da Federasul e da ACPA de 1963 a 1970. Santos foi apoiador de primeira hora da ditadura civil-militar, e teria explicado tal apoio dizendo que “Não estávamos à beira do caos. Já tínhamos entrado nele”.

Donald Charles Bird: nasceu em 1913 nos Estados Unidos e formou-se em Direito. Foi diretor vice-presidente da Joaquim Oliveira S. A. e atuou no Conselho Administrativo da Granja Quatro Irmãos, Ferragem Americana S. A. e Imobiliária Real. Também foi Delegado da Associação Brasileira de Supermercados e Diretor da ACPA. Bird teria vindo para a América Latina para realizar contra-espionagem contra alemães nazistas no Sul na Segunda Guerra, assim como muitos outros agentes do FBI, enviados para embaixadas dos EUA na América Latina, trabalhando secretamente. Bird casou-se com uma gaúcha e se estabeleceu em Porto Alegre, criando o primeiro supermercado do Rio Grande do Sul, o Real, em 1953.

Antônio Jacob Renner: fundou em 1912 a A. J. Renner & Cia., fábrica de vestuário, tornando-se um dos empresários de maior sucesso e com a maior indústria de fiação e tecelagem do Rio Grande do Sul. Foi deputado estadual em 1935, membro do Conselho Consultor do Estado do RS e do Centro de Indústria Fabril do RS134, além de participar ativamente da vida política do estado dos anos 1930 aos 1960. O Centro de Indústria Fabril, criado em 1930, deu origem à Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Paulo D’Arrigo Vellinho: é um dos poucos fundadores do IPESUL vivos. Formou-se em Química Industrial na UFRGS, especializou-se em Administração de Empresas e foi presidente da Springer. Foi presidente da FIERGS (1971-1974) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de 1976-1980. Atualmente, integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul e o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social nacional.

Kurt Weissheimer: foi o primeiro presidente da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural do Estado do Rio Grande do Sul (ASCAR) em 1955, que oferecia crédito para pequenos produtores. Foi vice-presidente da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural e diretor do Banco Agrícola Mercantil. Também foi diretor da FARSUL na gestão de Antônio Saint Pastous de Freitas (1961-1963).


“Utilidade pública” e “Operação Limpeza”


Em 1963, o IPESUL foi declarado de utilidade pública pelo governador Ildo Meneghetti, do Partido Social Democrático (PSD). Este decreto tem um significado político importante na época, uma vez que o instituo era anticomunista e sustentava posições contrárias ao governo de João Goulart. O grupo tinha ligações com os oficiais do III Exército que tiveram participação ativa no golpe. Segundo René Dreifuss (em “1964, A Conquista do Estado”), em meados de 1963, no Rio Grande do Sul, os golpistas podiam contar com dois terços dos oficiais do III Exército, com a Polícia Civil e com a Força Pública.

O Coronel [Peracchi] Barcellos agiu ativamente na subversão das forças policiais do Rio Grande do Sul. O general da reserva Armando Cattani estava encarregado da organização dos proprietários de terras nas zonas rurais em unidades paramilitares, que agiriam como um grupo coordenado na época do golpe. O plano teve o apoio total de Ildo Meneghetti, que era ligado à FARSUL e ao IPESUL.

Logo após o golpe começou uma “Operação Limpeza”, onde muitas pessoas consideradas de esquerda, de políticos a militantes, tiveram seus mandatos cassados, foram presos e, como é o caso de alguns professores da UFRGS e da PUCRS, expurgados. Nesta fase, um membro do IPESUL assumiu papel importante. Com a abertura da Comissão Especial de Investigação Sumária da UFRGS, foi necessário que cada unidade acadêmica indicasse um representante para compor a Comissão, que seria responsável pelos expurgos. A Faculdade de Arquitetura se recusou a indicar um nome e Amadeu Fagundes da Rocha acabou sendo escolhido. Amadeu Fagundes da Rocha Freitas era engenheiro e foi diretor do IPESUL de 1965 a 1966.

Em todo esse processo, a revista “Democracia e Emprêsa” desempenhou um papel de articulador do discurso ideológico que deu sustentação ao golpe, com um forte tom anticomunista e defendendo a ideia de que o Brasil precisava de uma “nova democracia renovada” compatível com a “tradição católica” do povo brasileiro, de sua cordialidade, harmonia entre classes e da aversão ao conflito. A dissertação de Thiago de Moraes traz testemunhos, documentos e análises preciosas sobre esse período sombrio da história do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Quebrar a hegemonia do capital financeiro

A melhor novidade política atual é a atitude da Dilma e o governo de enfrentamento à hegemonia do capital financeiro. O neoliberalismo colocou em prática políticas de desregulamentação, alegando que deveriam ser removidas as travas à livre circulação do capital, para que a economia voltasse a crescer.

Promoveu-se, em escala mundial, um imenso processo de desregulamentação. O resultado não foi uma retomada do crescimento econômico, mas uma gigantesca transferência de capitais do setor produtivo para o especulativo. Porque o capital não é feito para produzir, mas para acumular. Se consegue mais retornos, em prazos mais curtos, com menos impostos, se dirige para o setor financeiro. Foi o que ocorreu, promovendo-se a hegemonia do capital financeiro, sob forma especulativa.

Essa autonomização do capital financeiro é uma das características da economia na era neoliberal. O capital financeiro ganhou não apenas a posição estratégica do ponto de vista econômico, mas o poder de desestabilização de economias nacionais e o controle dos organismos internacionais como o FMI, a OMC, o Banco Mundial, que se tornaram instrumentos para expandir e consolidar a desregulamentação, que só faz fortalecer a hegemonia do capital financeiro e o poder dos bancos privados.

A forma que assume esse poder hoje, no plano internacional, é a injeção de financiamentos para atender as economias do centro do sistema em crise, desvalorizando suas moedas e aumentando sua competitividade, assumindo formas de protecionismo típicas do neoliberalismo. No plano interno, taxas de juros estratosféricas atraem capitais para a esfera especulativa, colocando obstáculos ao crescimento da economia produtiva.

No seu início, o capital financeiro era um capital de apoio à produção. Na era neoliberal ele ganhou autonomia, passou a viver, como sanguessuga, da produção. É o pior tipo de capital, que não produz nem bens, nem empregos, que desestabiliza as economias nacionais, as chantageia com crises especulativas, canaliza recursos para a especulação, desviando-se da produção e da geração de empregos.

A luta que Dilma e o governo brasileiro estão travando aponta para o maior dos obstáculos que temos que enfrentar para resistir à recessão do centro do capitalismo, manter e elevar substancialmente nosso ritmo de crescimento e seguir estendendo as políticas sociais. Os bancos – apoiados pela mídia privada – resistem a diminuir os juros, quando a taxa oficial de juros e os juros dos bancos públicos já se aproximam da média internacional.

O positivo dessa circunstância é que fica claro que a hegemonia do capital financeiro precisa ser quebrada, para que o Brasil possa trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável e prolongado. Dilma comanda o país nessa luta e tem o apoio da grande maioria da população, vítima desse mesmo capital.

LOCAL: População denuncia mau atendimento, falta de médicos e salários atrasados no Hospital Distrital de Belém-PB

A população belenense vem denunciando uma série de problemas no Hospital Distrital de Belém, no Agreste Paraibano, e que estaria refletindo diretamente no atendimento aos pacientes.

Nesta semana, usuários denunciaram na imprensa local a falta de médicos no referido estabelecimento de saúde estadual. Além da falta de profissionais de saúde, pacientes reclamam do mau atendimento oferecido durante as consultas médicas.

Segundo informações de pessoas ligadas ao hospital, vários funcionários também estariam com os salários atrasados, e não reclamam, publicamente, por temerem represálias do grupo político que comanda o estabelecimento.

História

O Hospital Distrital de Belém foi inaugurado em 1998, e leva o nome do ex-prefeito brizolista Luiz Alexandrino da Silva, o Lula Firmino, assassinado por adversários políticos em 1985, no auge da carreira política. A homenagem a Lula Firmino foi concedida pelo então governador José Maranhão.

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Comentário do Folha13: Curioso é uma emissora local menosprezar as denúncias envolvendo o Hospital Distrital de Belém. Logo chama o intervalo. Ninguém fala nada. Ninguém comenta nada. Um silêncio absoluto. E ainda diz que é um “orgulho da gente”. Que gente? Gente que mente?
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sexta-feira, 13 de abril de 2012

terça-feira, 10 de abril de 2012

Loco Abreu e o "jornalismo de confusão"


O uruguaio Loco Abreu, apesar da extravagância dentro de campo e do jeitão falador, raríssimamente frequenta programas esportivos, aliás, pelo que me consta, nesses anos atuando no futebol carioca, nunca soube de nenhuma participação dele em qualquer canal de televisão.
 
É sabido que Loco tem uma relação bastante crítica no que tange a atuação da mídia brasileira; assim , confesso que estranhei, hoje pela manhã, ao girar pela grade e vê-lo como convidado do programa Redação Sportv.
 
Vou pular algumas partes que já mencionei acima, pra ir direto no ponto que mais me chamou atenção por sua coragem e determinação em dizê-lo. O programa fluía normalmente até que lá pela metade, um determinado quadro abordava a entrevista de um jogador do Cruzeiro que fizera dois gols na partida de ontem, contra o Atlético. Ao sair de campo, o jogador foi interpelado pelo repórter sobre um gol teoricamente fácil que havia perdido e deu uma resposta ousada , dizendo que aquela não era a primeira nem a última vez que perde ou perderia gols, etc.
 
André Risek, resolveu então perguntar para El Loco, sua opinião sobre as declarações do jogador cruzeirense.
 
- Loco, você como jogador de muita personalidade, que sempre dá entrevistas que fogem da mesmice, eu gostaria de saber o que você achou?
 
Loco Abreu , como bom artilheiro que é, olhou pra bola levantada e resolveu usar a cabeça, sua especialidade dentro e fora de campo, pra marcar essa:
 
- Eu acho o seguinte: O garoto fez dois gols na partida e o repórter vai lá pra falar justamente do gol que ele perdeu [...] Mas é isso que acontece aqui no Brasil eu já aprendi que aqui não se faz um jornalismo sério, mas um jornalismo de confusão. Ficam explorando a negatividade pra ver se vai render [...] Por exemplo, tem três jornalistas do Globo Esporte que eu não falo mais; eles vão ao treino do Botafogo e eu não falo mais com eles, pois já sei no que vai dar..
 
O programa segue e mais a frente Rizek ainda tenta salvar a coisa:
 
- [...] Pois é você que gosta de discutir tática sente falta disso por aqui, acha que se discute pouco sobre tática no futebol brasileiro?
 
Loco, nessa manhã, estava mesmo impossível; mata no peito, olha pro gol aberto e, com elegância, faz mais um pra liquidar de vez a fatura:
 
- Mas aí é aquilo que eu te falava, o jogo acaba o repórter vem perguntar o que eu achei eu falo que o time jogou num 4 -3-2-1 mais avançado e tal [...] aí o cara vai lá e escreve depois que eu tô querendo questionar o treinador [..] Aí agora, sabe o que eu faço? Não falo mais nada.
 
Se André Rizek e a turma dos bem amigos podiam ter dormido sem essa eu não sei, mas pra um segunda-feira pós feriado acho que eu não poderia ter acordado melhor.
 
No Advivo

domingo, 8 de abril de 2012

Os mercados ensinam a austeridade aos jornalistas gregos

 
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O presidente do sindicato dos fotojornalistas gregos, Marios Lolos, foi submetido a uma cirurgia na cabeça devido às feridas sofridas por espancamento da polícia de choque grega. Segundo o sindicato, o jornalista sofreu traumatismo craniano que exigiu a intervenção cirúrgica.

Foi o segundo dia de ataques da polícia a repórteres da imprensa e da TV e a fotojornalistas, segundo relato do site informativo Keep Talking Greece.

A polícia não permitiu que ninguém se aproximasse do edifício do Parlamento, e agrediu, desferiu pontapés e esmurrou indiscriminadamente manifestantes e jornalistas. Os manifestantes protestavam contra o governo e homenageavam a memória do farmacêutico aposentado Dimitris Christoulas, que se suicidou na quarta-feira, “para não se ver obrigado a revirar lixo para assegurar o seu sustento”.

O local do suicídio de Christoulas, que tinha 77 anos, está agora coberto de velas, pequenas bandeiras e cartazes.

A polícia grega anunciou mais tarde que fará uma investigação interna acerca da agressão a Lolos e o comportamento violento para com os jornalistas.

Eleições ameaçadas

O governo não eleito grego prepara-se para adiar mais uma vez a marcação da data das eleições gerais a pretexto de ainda não ter conseguido chegar a acordo com os credores privados que não aceitaram a solução de troca de obrigações estabelecida com a maioria dos detentores privados de dívida grega.

A data deveria ter sido anunciada esta semana mas o porta-voz do governo, Pantelis Kapsis, anunciou quarta-feira que isso só acontecerá provavelmente na próxima semana.

Este cenário torna cada vez mais prováveis as possibilidades de as eleições, previstas vagamente para maio, depois de terem sido anunciadas inicialmente para fevereiro, serem adiadas sucessivamente com base nas alegadas dificuldades para finalizar o processo que permitirá finalmente a chegada a Atenas do segundo resgate nas condições impostas pela troika. Entretanto, o governo não eleito de Papademos vai impondo já o pacote de austeridade associado a esse resgate.

A conversão de 20270 milhões de euros correspondentes às dívidas aos credores que não aceitaram o processo de troca de obrigações, conhecido como « perdão » da dívida, deveria estar concluída em 11 de abril, o que já não acontecerá porque o governo de Atenas afirma que não tem meios para o fazer. A próxima data prevista é a de 20 de abril.

A chegada do segundo resgate já acordado está, porém, dependente também do acordo com os credores que não aceitaram «o perdão». E, segundo o entendimento do governo, a marcação de eleições só poderá acontecer quando esse processo estiver concluído.

A Grécia debate-se agora com três opções: continuar a pagar as dívidas aos credores que não aceitaram o processo, sobrecarregando os encargos que estiveram na base da definição do valor do resgate; entrar em moratória nesse setor, abrindo contenciosos; ou fazer uma nova proposta, o que obrigaria a reconverter todo o acordo com os restantes, gerando uma nova onda de encargos em relação aos cálculos como estão feitos actualmente.

A chegada do segundo resgate já acordado está, porém, dependente também do acordo com os credores que não aceitaram «o perdão». E, segundo o entendimento do governo, a marcação de eleições só poderá acontecer quando esse processo estiver concluído.

Este arrastamento começa a ser interpretado como um mau sinal da Grécia em direção aos restantes países europeus : o de que as consultas populares podem passar a ficar reféns de alegadas negociações ou manifestações de insatisfação dos mercados em relação ao cumprimento dos acordos de dívida. E num momento em que as intenções de voto das várias forças de esquerda gregas que querem rejeitar o memorando da troika, excluindo o PASOK que se converteu ao neoliberalismo, atingem 35 por cento, começa a haver receios de que as eleições continuem de adiamento em adiamento enquanto o governo não eleito vai impondo fatos consumados.

Uma delegação da Esquerda Europeia da qual fez parte o presidente do Die Linke da Alemanha, Gregor Gisy, e o presidente do Partido da Esquerda Europeia, Pierre Laurent, encontrou-se em Atenas com o presidente grego, Carolias Papoulias, a quem afirmou que apesar da opinião dominante nos governos e instituições europeias e da opção única pela política de austeridade existem outras vias, mais democráticas, para combater a crise social e econômica.

Alexis Tsipas, presidente da coligação de esquerda Syriza, afirmou durante a audiência que «a Grécia é um país soberano e que o povo grego tem o direito a definir o seu próprio destino ; e se alguns pensam em adiar as eleições é necessário que assumam as consequências dessa sua opção».

Na mesma audiência, o presidente do Die Linke afirmou que «é preciso ajudar este país», pelo que as próximas eleições poderão «representar uma mudança». «É preciso enviar uma mensagem à Europa», acrescentou, «é preciso mostrar o que queremos verdadeiramente: uma Europa da democracia e da justiça social».
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Fotos: www.keeptalkinggreece.com
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