Subscribe Twitter Facebook

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Revolta do Quebra-Quilos

Quebra-Quilos. Dos confrontos.

Por Marco Albertim
>
No povoado conhecido como Fagundes, a 20 quilômetros de Campina Grande, Paraíba, ocorre o primeiro levante contra o novo sistema de medição de produtos, bem como a cobrança de impostos pelo uso do solo nas feiras populares. O presidente da província, Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, – barão de Abiahy – elevara os impostos e intensificara o recrutamento militar. A recusa em pagar os impostos se dá ao arrematante Francisco Antonio de Sales. O fato repercute na comarca e o juiz dá a palavra de que as reivindicações serão atendidas; não a honra, entretanto.

>
A população ocupa as ruas. Dia 14 de novembro de 1874, o povo enfrenta soldados da polícia e capangas do dono do mercado, da maior quantidade de escravos e de plantação de algodão, o coronel Alexandrino Cavalcanti de Albuquerque. Os manifestantes atiram tijolos de rapadura, mesmo sendo alvo fácil dos fuzis da polícia. Os jornais oficiais, para encobrir a vergonha, mencionam pedradas e não dizem que muitos soldados correram espancados por mulheres.
>
Os matutos, à frente o líder Marcolino de Tal, arrombam a cadeia e soltam os presos, destroem pesos e medidas e queimam os arquivos. Liderados por Manoel do Carmo, os escravos do coronel Alexandrino invadem a comarca, se apossam do livro do Fundo de Emancipação. O livro é entregue ao padre Calixto da Nóbrega, da confiança dos negros. O propósito é saber se consta algo sobre a emancipação, depois de rumores de que a Lei do Ventre Livre alforriaria grupos de escravos a cada ano. Os historiadores Rubim de Aquino, Francisco Roberval Mendes e André Boucinhas observam que, “mesmo em uma situação de revolta social, alguns cativos procuravam os meios legais para sua libertação.”
>
Dali em diante, há revoltas em 35 localidades da Paraíba, 23 em Pernambuco, 13 no Rio Grande do Norte e sete em Alagoas. Coletorias fiscais são invadidas e documentos são queimados. Em Pernambuco, há menos de mil praças aquartelados; em alguns municípios, menos de quarenta. É em Itambé que as revoltas repercutem em primeiro lugar. Em carta ao presidente da província, o juiz João Francisco da Silva Braga assim as narra: “... vilas e povoados (...) têm sido vítimas de ataques do povo em massa, em número superior a mil indivíduos (...) ao ponto de agredirem as Coletorias, e as Câmaras Municipais dilacerando seus arquivos, escangalhando e incendiando seus arquivos (...), e quando por ventura alguma vez, a força pública se tem apresentado, eles a tem repelido, sem dúvida por ser ela insuficiente...” Em Timbaúba, povoado de Itambé, o escrivão Saturnino Francisco de Souza relata ao capitão Valdomiro da Silveira, subdelegado local, a invasão do cartório com a queima dos seus documentos.  Com vozerios, vivas e repiques de sinos.
>
Circula um panfleto anônimo, com incitamentos: “Não tens um cacete, uma faca, um bacamarte? (...) Ao lampião com os que embolsam o teu dinheiro e além disso te descompõem. É preciso um dilúvio de sangue para que desapareçam eternamente desta terra os ladrões e espaldeiradores.” O historiador Hamilton de Mattos Monteiro explica que “Ao lampião” é o correspondente “À La lanterne!”, usada na Revolução Francesa para designar o local de enforcamento dos inimigos do povo. Como os matutos são analfabetos, a autoria se atribui a liberais e jesuítas. Em Bonito é acusado o capitão da Guarda Nacional, Antonio José Henrique, de ideias liberais.
>
A repressão surge com violência na Paraíba. Tropas do Exército são enviadas. É comandada pelo coronel Severiano Martins da Fonseca, irmão de Deodoro da Fonseca. São usados coletes de couro cru, inventados pelo capitão Longuinho; no corpo do aprisionado, encolhe-se quando molhado, asfixiando a vítima, derrubando-a e fazendo escorrer sangue pela boca. Jesuítas estrangeiros são expulsos de Pernambuco – os padres Marco Arconi, João Batista Raiberti, Vicente Mazzi e Filipe Sotovia. O padre Ibiuapina [Ibiapina], principal suspeito, sequer é denunciado por conta de seu prestígio entre a população pobre. Já Calixto Nóbrega é defendido e absolvido por Irineu Joffily, seu aliado político.
>
Os ganhos do movimentos são poucos, inda que os cobradores de impostos tenham sido impedidos de cobrar por algumas semanas. O Quebra-Quilos foi sobretudo um exemplo de insubmissão.
>

0 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...