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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A ditadura no Egito e a omissão da mídia

Reproduzo artigo de Rogério Marques, intitulado "Imprensa acordou com os gritos da multidão", publicado no Observatório da Imprensa:

A revolta popular no Egito não pegou de surpresa apenas os Estados Unidos e países europeus, velhos aliados de Hosni Mubarak e de outras ditaduras árabes. A imprensa brasileira, eternamente influenciada por Washington e pelos jornais americanos, foi igualmente surpreendida. Até então, quase todo o noticiário internacional e boa parte do de economia eram voltados para países como Bolívia, Equador, Venezuela, Irã. De repente, os gritos de revolta, primeiro na Tunísia, depois nas ruas do Cairo, invadiram os aquários das nossas redações.

Nossos editores, principalmente os de internacional, continuam agindo como no tempo em que se vivia, ao mesmo tempo, guerra fria e ditadura militar. Todo cuidado era pouco. Ter uma visão crítica da política americana e de outras potências ocidentais podia parecer um apoio ao "outro lado". De repente, leitores, ouvintes, telespectadores ficaram sabendo que o governo egípcio recebe dos Estados Unidos uma ajuda anual de quase US$ 2 bilhões – inferior apenas àquela recebida por Israel, outro aliado problemático de Washington. Os leitores ficaram sabendo também das lamentáveis condições de vida do povo, com altas taxas de desemprego, pobreza, desigualdade social. E o que acontecerá nas prisões egípcias, sauditas? Pouco se falou sobre isso, até agora.
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Pena de morte é sempre execrável

Em 2008 aconteceu algo parecido, quando explodiu nos Estados Unidos a crise das hipotecas, considerada a pior desde a Grande Depressão de 1929. A bolha do mercado imobiliário já vinha crescendo há alguns anos, mas somente depois de instalada a crise surgiram os analistas, agora para fazer previsões catastróficas sobre o futuro do Brasil. Alguns pareciam mesmo torcer pelo pior. Felizmente, quebraram a cara.

Esse tipo de atitude, essa falta de independência, leva a imprensa brasileira a não informar o público corretamente e a desrespeitar regras fundamentais do bom jornalismo: ouvir os dois lados, ter olhar crítico. Faltou isso também no episódio da condenação à morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani. Pena de morte, seja onde ou por que motivo for, é execrável. Os Estados Unidos têm nos seus corredores da morte 52 mulheres. Uma delas, Teresa Lewis, foi executada em setembro do ano passado no estado da Virgínia, por planejar o assassinato do marido e do enteado para receber um seguro. Milhares de pedidos de indultos foram recusados pelo governador da Virgínia, Robert McDonnell. Profissionais da área de saúde inundaram de e-mails a caixa postal do governador, alertando que Teresa era deficiente mental. De nada adiantou.

O governo americano obviamente ficou em má situação, mas os correspondentes de nossas TVs nos Estados Unidos falam "da preocupação de Obama com a democracia" e coisas desse tipo, sem nenhum comentário crítico sobre a velha cumplicidade de Washington com as ditaduras árabes. A secretária de Estado americana Hillary Clinton tenta se equilibrar no salto alto e alguns jornais brasileiros parecem fazer o mesmo: da noite para o dia, passaram a chamar Hosni Mubarak de ditador, não mais de presidente, com apenas 30 anos de atraso. E a exigir sua saída imediata e a realização de eleições livres. Pensam que o leitor é idiota. Entraram em cena também os famosos "analistas" do óbvio. Até mesmo alguns comentaristas de economia descobriram, finalmente, as mazelas do povo egípcio. Com multidões nas ruas e jornalistas sendo presos e deportados, é hora de chutar o cachorro agonizante.
 
Leia na íntegra aqui
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Posta do blog do Miro

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