Todo mundo sabe que nunca houve, em nossa história, um partido como o PT. Isso quer dizer que nunca haverá outro igual?
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É certo que, idêntico a ele, não teremos nenhum, pois as condições de seu surgimento e consolidação foram únicas e não se repetirão. Como ensinavam os clássicos, os fatos históricos, quando acontecem pela segunda vez, tornam-se farsa.
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Daí não se deduz, no entanto, que partidos políticos com alguma semelhança com o PT sejam impossíveis no Brasil. Por que teriam que ser?
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É tradicional, na ciência política, a distinção entre partidos “de quadros” e “de massas”, defendida, no início dos anos 1950, por Maurice Duverger. Embora longe de ser exaustiva, é uma classificação que ajuda a entender os tipos mais relevantes de partidos que existem nas democracias.
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Para ele, os partidos de quadros apareceram antes. Formaram-se a partir da reunião de pessoas ilustres, que compartilhavam opiniões e se dispunham a atuar em conjunto na vida política. Enquanto as instituições democráticas modernas, como o sufrágio universal, ainda engatinhavam, eles articulavam individualidades, mas de forma tênue. Sua organização era incipiente, cobravam pouco em termos disciplinares e não eram homogêneos na ideologia.
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Caracteristicamente, valorizavam a qualidade e não a quantidade de afiliados. O típico partido de quadros decidia en petit comité, em volta de uma mesa (de preferência tomando um bom vinho), deliberando com calma, sem a presença perturbadora das multidões. Neles, “militantes” são figuras retóricas.
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Os partidos liberais e conservadores, mundo afora, costumam ser desse tipo. Sua burocracia é irrelevante e serve apenas para assessorar os notáveis. Não existe uma “máquina partidária” que faça exigências.
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Partidos de massa, para Duverger, vieram mais tarde, especialmente a partir da expansão do sindicalismo, fenômeno característico do fim do século 19. Eles nasceram quando grandes contingentes da população perceberam que só conseguiriam atingir metas comuns e alcançar reivindicações por meio da participação política estruturada. Cresceram com a força da militância.
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Seu próprio tamanho fez com que tivessem que ser mais organizados, disciplinados e coesos. Pelas mesmas razões, precisavam de burocracias internas, para fazer funcionar a “máquina” e se dedicar às tarefas de proselitismo e recrutamento de filiados. O tamanho não era tudo, mas era essencial. Tomavam suas decisões em convenções, nas quais as maiorias tinham que ser (às vezes duramente) construídas.
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Não é difícil reconhecer nossos partidos atuais nesses tipos. Na verdade, salvo exceções menores (de legendas que pretendiam ser de massas e que sequer chegaram a ser de quadros, como a quase totalidade dos “nanicos”), o que temos é uma ampla oferta de organizações partidárias de notáveis (ou pseudonotáveis) e uma só de massas.
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Curiosamente, os primeiros estão em dificuldades (salvo os poucos em que o sistema político enxerga haver lideranças emergentes significativas, como o PSB de Eduardo Campos) e o único partido de massas vai bem. Depois de ocupar a Presidência três vezes, crescer no Legislativo e mostrar que tem cacife para ficar mais tempo no poder, o PT esbanja saúde aos 30 anos.
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Ser um partido de massas, em sentido muito próximo do literal, pode não ser a única razão de seu sucesso. Mas o completo desenraizamento das siglas da oposição, a começar pelo PSDB, é, com certeza, uma das causas de suas dificuldades.
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O que fizeram tucanos e companheiros nos últimos oito anos para mudar a situação? O que tinham feito nos oito em que foram governo? O que estão fazendo agora? Muita coisa pode ter lhes faltado, mas não o tempo. Nos mesmos 20 anos, o PT virou um partido grande e, para muitas pessoas, um grande partido.
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Hoje, na oposição, as discussões são travadas entre opiniões pessoais, na base do “eu acho isso” e “eu acho aquilo”. É assim que encontrarão o Brasil sem voz, que Fernando Henrique quer representar? É possível que o PSDB nunca venha a ser um legítimo partido de massas, mas está na hora de deixar de ser uma legenda de quadros tão limitada.
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É certo que, idêntico a ele, não teremos nenhum, pois as condições de seu surgimento e consolidação foram únicas e não se repetirão. Como ensinavam os clássicos, os fatos históricos, quando acontecem pela segunda vez, tornam-se farsa.
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Daí não se deduz, no entanto, que partidos políticos com alguma semelhança com o PT sejam impossíveis no Brasil. Por que teriam que ser?
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É tradicional, na ciência política, a distinção entre partidos “de quadros” e “de massas”, defendida, no início dos anos 1950, por Maurice Duverger. Embora longe de ser exaustiva, é uma classificação que ajuda a entender os tipos mais relevantes de partidos que existem nas democracias.
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Para ele, os partidos de quadros apareceram antes. Formaram-se a partir da reunião de pessoas ilustres, que compartilhavam opiniões e se dispunham a atuar em conjunto na vida política. Enquanto as instituições democráticas modernas, como o sufrágio universal, ainda engatinhavam, eles articulavam individualidades, mas de forma tênue. Sua organização era incipiente, cobravam pouco em termos disciplinares e não eram homogêneos na ideologia.
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Caracteristicamente, valorizavam a qualidade e não a quantidade de afiliados. O típico partido de quadros decidia en petit comité, em volta de uma mesa (de preferência tomando um bom vinho), deliberando com calma, sem a presença perturbadora das multidões. Neles, “militantes” são figuras retóricas.
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Os partidos liberais e conservadores, mundo afora, costumam ser desse tipo. Sua burocracia é irrelevante e serve apenas para assessorar os notáveis. Não existe uma “máquina partidária” que faça exigências.
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Partidos de massa, para Duverger, vieram mais tarde, especialmente a partir da expansão do sindicalismo, fenômeno característico do fim do século 19. Eles nasceram quando grandes contingentes da população perceberam que só conseguiriam atingir metas comuns e alcançar reivindicações por meio da participação política estruturada. Cresceram com a força da militância.
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Seu próprio tamanho fez com que tivessem que ser mais organizados, disciplinados e coesos. Pelas mesmas razões, precisavam de burocracias internas, para fazer funcionar a “máquina” e se dedicar às tarefas de proselitismo e recrutamento de filiados. O tamanho não era tudo, mas era essencial. Tomavam suas decisões em convenções, nas quais as maiorias tinham que ser (às vezes duramente) construídas.
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Não é difícil reconhecer nossos partidos atuais nesses tipos. Na verdade, salvo exceções menores (de legendas que pretendiam ser de massas e que sequer chegaram a ser de quadros, como a quase totalidade dos “nanicos”), o que temos é uma ampla oferta de organizações partidárias de notáveis (ou pseudonotáveis) e uma só de massas.
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Curiosamente, os primeiros estão em dificuldades (salvo os poucos em que o sistema político enxerga haver lideranças emergentes significativas, como o PSB de Eduardo Campos) e o único partido de massas vai bem. Depois de ocupar a Presidência três vezes, crescer no Legislativo e mostrar que tem cacife para ficar mais tempo no poder, o PT esbanja saúde aos 30 anos.
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Ser um partido de massas, em sentido muito próximo do literal, pode não ser a única razão de seu sucesso. Mas o completo desenraizamento das siglas da oposição, a começar pelo PSDB, é, com certeza, uma das causas de suas dificuldades.
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O que fizeram tucanos e companheiros nos últimos oito anos para mudar a situação? O que tinham feito nos oito em que foram governo? O que estão fazendo agora? Muita coisa pode ter lhes faltado, mas não o tempo. Nos mesmos 20 anos, o PT virou um partido grande e, para muitas pessoas, um grande partido.
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Hoje, na oposição, as discussões são travadas entre opiniões pessoais, na base do “eu acho isso” e “eu acho aquilo”. É assim que encontrarão o Brasil sem voz, que Fernando Henrique quer representar? É possível que o PSDB nunca venha a ser um legítimo partido de massas, mas está na hora de deixar de ser uma legenda de quadros tão limitada.
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*Marcos Coimbra, Sociólogo e Presidente do Instituto Vox Populi
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Postado no Aposentado Invocado
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