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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Torturados por militar homenageado no Chile contam sua horrível experiência

Há testemunhos da crueldade do ex-brigadeiro Miguel Krassnoff, um dos mais temíveis torturadores de Pinochet: “esta cachorra não só é comunista, mas, além disso é judia… tem que matá-la”, foram as palavras do assassino e que foram escutadas por outros agentes que depois entregaram estes antecedentes à justiça. Diana, grávida, morreu nesse lugar e Krassnoff ordenou que fizessem desaparecer seu corpo. Isso ocorreu entre os dias 19 e 20 de novembro de 1974.
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A brigada Lautaro da DINA (a temida polícia secreta de Augusto Pinochet) era uma das unidades de extermínio criada pela ditadura que governou o Chile a ponta de fuzil, torturas e morte entre 1973 e 1990. Seu alvo principal eram as cúpulas dos partidos políticos contrários ao regime militar, em especial o Partido Comunista. Nessa divisão, o ex-brigadeiro Miguel Krassnoff se fazia conhecer por “Capitán Miguel” ou “Caballo loco” e é apontado como um dos mais temíveis torturadores nessa época obscura para o Chile.

A este mesmo ex-militar, condenado a 144 anos de cárcere pela sistemática violação aos Direitos Humanos, um grupo não menor de chilenos – todos apoiadores de Pinochet- ofereceu uma polêmica homenagem que dividiu outra vez a sociedade chilena entre uma minoria que ainda rememora os milicos e a maioria que não quer voltar a viver situações tão aberrantes.

A história de terror protagonizada por Krassnoff explica a inconformidade dos organismos de Direitos Humanos e de familiares dos detidos desaparecidos, pois afetou desde a ex-presidenta Michelle Bachelet até chilenos anônimos que foram torturados pelos agentes das forças armadas.

A partir da década de 2000 Krassnoff foi condenado sistematicamente por seqüestros e torturas. Em 2003, a então ministra de Defesa Michelle Bachelet confirmou que o ex-brigadeiro foi quem a deteve em seu domicílio, no princípio da ditadura e que participou dos interrogatórios a que foi submetida enquanto permaneceu presa no centro de torturas conhecido como Villa Grimaldi.”

“Acho que ele é uma das pessoas que foi me deter em casa e que durante minha estadia em Villa Grimaldi esteve presente durante os interrogatórios, mas como nos vendavam os olhos não posso dizer outras cosas. Ainda assim, eu escutei muitas vezes seu nome, mencionado em muitos atos e alguns muito violentos”, disse a ex-presidenta nessa ocasião.

O assunto é ainda mais duro para o ex-candidato presidencial Marco Enríquez-Ominami, cujo pai Miguel Enríquez, um dos fundadores do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (grupo político que enfrentou os militares) foi assassinado pelos agentes de Pinochet.

Com respeito à homenagem em si, Enriquez-Ominami a qualificou de “um insulto”. Outro a ver como velhas feridas se abrem foi o presidente do Partido Socialista, o deputado Osvaldo Andrade, que declarou: “eu sou parte da lista dos que foram torturados por Krassnoff e ver que lhe renderam uma homenagem me provoca pena, porque desmentem um conjunto de fatos que são de toda evidência e que a historia deste país conseguiu constituir. Como é possível que num país onde aconteceram tais atrocidades, tenha gente que se permita fazer uma homenagem. O que é o que há para homenagear? Um cara que carrega sobre si assassinatos e que abusou brutalmente dos detidos? Eu não estou dizendo coisas que me contaram; eu vi.”

Andrade afirmou que “Krassnoff, em Villa Grimaldi, se jactava de sua condição, gozava de impunidade e a este senhor estão rendendo homenagem”.

Outra das lembranças que foram removidas foi a que aconteceu com a jornalista e membro do MIR, Diana Arón, que foi ferida e torturada por Krassnoff. Isto apesar de ela estar grávida.

Há testemunhos de sua crueldade: “esta cachorra não só é comunista, mas, além disso é judia… tem que matá-la”, foram as palavras de seu assassino e que foram escutadas por outros agentes que depois entregaram estes antecedentes à justiça. Diana, grávida, morreu nesse lugar e Krassnoff ordenou que fizessem desaparecer seu corpo. Isso ocorreu entre os dias 19 e 20 de novembro de 1974.

Finalmente Patricio Bustos, diretor atual do Serviço Médico Legal (SML) foi outro dos que estremeceu o país com seu relato. “Marcelo Morem Brito (outro torturador) e Miguel Krassnoff começaram imediatamente com golpes em ambos os ouvidos. A seguir me conduziram até a torre, me despiram, me penduraram de pés e mãos e começaram com aplicações de eletricidade e golpes de mãos, pés e com diferentes objetos. Queriam saber tudo que fosse relacionado com a resistência, da qual estou orgulhoso de ter participado”, disse Bustos, também membro do Movimiento de Izquierda Revolucionario.

No dia 10 de setembro de 1975 Bustos tinha 24 anos e trabalhava em um laboratório clínico. “Com isto revivi o que aconteceu comigo e com a minha companheira e outras pessoas que estavam nas mãos deste criminoso, que não estava só. Isto é uma bofetada não só nas vítimas, mas também ao tipo de país e democracia que queremos. Isto demonstra que o pinochetismo não deixou de existir e aproveita os espaços que se criam a partir de determinadas situações. No Chile ainda existe um jornalismo pinochetista, uma cúria pinochetista, um parlamentar pinochetista. Se constrói isto e se legitima”, conclui.

Tradução: Libório Junior
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