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Gilberto Felisberto Vasconcellos
Em meados dos anos 70, a América Latina inteira estava submetida a regimes ditatoriais. Ditaduras em todos os países latino-americanos. Como explicar isso? A guerra fria entre USA e URSS? Ameaça da União Soviética? Cubanização da América Latina?
Nada disso, desocupado leitor como dizia Cervantes, é a causa determinante da emergência das ditaduras e do retorno da democratização. Seria então a campanha do presidente Carter a favor dos direitos humanos?
Essas perguntas são fundamentais para entender o que passou desde José Sarney até agora, pondo ênfase menos nas dessemelhanças do que nas semelhanças entre os governos depois de 64. Nesse teatro o aspecto anedótico deve ser deixado de lado, em função do papel do Brasil na divisão internacional do trabalho e no processo de acumulação de capital a nível mundial. E, nesse aspecto, devemos tirar o chapéu para a lucidez da sociologia de Andre Gunder Frank.
É preciso dizer aqui que Andre Gunder Frank foi descartado na década de 70 por uma operação em conjunto, que envolvia universidade, instituto de pesquisa, CIA, Pentágono, bolsas de estudos para professores latino-americanos cooptados pelo imperialismo. Por isso é que surgiu no meio acadêmico uma crítica pífia e de má fé à sociologia de Gunder Frank, dizendo que esta era mecanicista por não admitir a possibilidade de progresso ou crescimento das forças produtivas sob a vigência do capitalismo na América Latina. Isso evidentemente era falso e representava uma caricatura, mas refletia sem dúvida o interesse real do capitalismo monopolista em escala mundial.
O que é preciso hoje esclarecer é a operação imperialista, que derrotou o nacionalismo de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro e, na sociologia, detonou com Gunder Frank e sua concepção acerca do desenvolvimento do subdesenvolvimento, assim como recalcou a contribuição de Ruy Mauro Marini sobre a super-exploração do trabalho. E, junto com isso, também houve a repressão contra as implicações de a Estética da Fome de Glauber Rocha, a qual denunciou o genocídio da população brasileira.
A verdade posta em foco por Gunder Frank é que a abertura política, seguida de eleições, aprofundou o modelo econômico da ditadura. Disso se conclui que, na década de 80, não mais era necessário a força política repressiva para continuar o mesmo padrão de acumulação de capital. Então, temos o mesmo modelo econômico sob o qual se ergueram politicamente a ditadura e a abertura.
Houve, a partir da década de 80, uma democratização política, mas não houve uma democratização econômica.
Gunder Frank mostrou que foi a demanda externa do sistema econômico capitalista mundial o fator responsável pela volta dos militares aos quartéis.
Hoje, eu fico aqui pensando com meus botões: não foi à toa que Gunder Frank chegou ao Brasil, ficou amigo de Leonel Brizola e foi chamado por Darcy Ribeiro para dar aula na Universidade de Brasília.
A juventude precisa urgentemente estudar os livros de Andre Gunder Frank, assim como ao PDT cumpre a tarefa de homenageá-lo publicamente, ou senão dar a um brizolão o nome do grande sociólogo do desenvolvimento do subdesenvolvimento.
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Vi no Tijolaço do Brizola Neto
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