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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Neoliberalismo e crise hegemônica na Europa


O pânico que havia gerado a possibilidade de convocação de uma consulta popular na Grecia sobre o pacote de ajuste imposto pelo Banco Central Europeu já revelava o que se confirma agora, de maneira ainda mais enfática. As “necessidades” da política de ajuste da UE, do Banco Central Europeu e do FMI se chocam frontalmente com os interesses da grande maioria dos europeus em cada país.

As eleições destes últimos dias – municipais na Inglaterra, parlamentares na Grécia, presidenciais na Franca, numa província na Alemanha – vão todas na mesma direção. Os governos da Inglaterra, da Grécia, da Alemanha, da França, não detém mais o apoio majoritario da sua população. As políticas que adotaram os levam ao isolamento social e à derrota política.

Na Inglaterra, rapidamente o governo de Cameron se desgastou e assumiu o ônus da recessão em que caiu o país. Perdeu as eleições municipais, como consolo o carismático prefeito de Londres conseguiu se reeleger, o que não esconde a maré nacional de rejeição do governo, prenunciando existência curta para o governo conservador britânico.

Na Grécia, como se poderia esperar, os dois partidos tradicionais, congregados no governo supostamente tecnocrático imposto pelo BCE, so’ conseguiram 1/3 dos votos, revelando a inviabilidade de seguir com o pacote suicida imposto ao país.

Na Alemanha, segue a série de derrotas politicas regionais da Democracia Cristä, que apontam para uma possível derrota da Merkel no próximo ano.


Na França, como todos os 11 governos que se submeteram a eleições gerais, o de Sarkozy foi derrotado, terminando o longo ciclo de governos de direita no país.

No entanto, nem esta vitória na França, nem o panorama negativo para o BCE, o FMI e Angela Merkel, abrem claramente um novo período político na Europa, pelo menos por enquanto. Pode estar dando sinais claros de esgotamento do modelo atual e do ciclo de governantes direitistas que assolou o continente, mas está ainda longe o momento de que uma nova política europeia se imponha.

As armadilhas montadas pela forma que assumiu a unificação europeia – uma unificação antes de tudo monetária – amarram os pés dos governos da região. Ficar no euro ou sair se assemelha ao dilema do "se correr o bicho come, se ficar o bicho pega".

As boas novidades são a consolidação de uma nova força de esquerda na Grécia, assim como o enfraquecimento da DC na Alemanha e dos conservadores na Inglaterra. Na Franca, no entanto, a soma dos votos do Sarkozy e da Le Penn seria maioria (só 50% dos votos dela foram para ele no segundo turno), demonstrando como o consenso conservador ainda é majoritário naquele país.

Essas eleições – especialmente a francesa – demonstram como a Europa também entra em uma situação de crise hegemônica, em que o bloco atualmente dominante, liderado pelo capital financeiro, não consegue mais apoio social e politico para sobreviver. (Tiveram que praticamente realizar um golpe para impor seus governos “tecnocratas” na Itália e na Grecia.) Todos os governos perdem as eleições gerais e as locais. Os candidatos de direita – como Sarkozy – não tem nada a dizer sobre os temas centrais dos países europeus, como a recessão e o desemprego, buscando desviar a atenção para os temas da imigracao e a violência. Não há proposta, no marco das atuais políticas econômicas, que consiga ter apoio popular.

Mas se está longe ainda de ter alternativas, ainda mais que elas têm que dar conta da UE, do euro, isto é, construir uma solução alternativa para todo o continente. O peso do pensamento conservador é ainda muito forte – como se vê na França. Mas o governo de Hollande pode contribuir para a construção de um novo consenso, rompendo com os termos da questão como estão colocados pela Alemanha e assumidos por, até aqui, todos os governos europeus. Na França pode começar a se esboçar medidas de apoio popular que comecem a construir um consenso alternativo.

O que se abre na Europa é um longo processo, cheio de turbulências e instabilidades, de construção de um consenso posneoliberal, em que a América Latina está há mais de uma década.
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