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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Ser Mulher: reflexões sobre uma cultura de embates e resistências

Por Taísa de Sousa Ferreira[1]

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As reflexões desenvolvidas no bojo da militância e da vivência universitária me suscitaram a escrever sobre os embates e resistências que permeiam a vivência das mulheres na sociedade, neste sentido me proponho a trazer algumas considerações sobre os enfrentamentos vividos a partir do entendimento de que pertencer a um ou outro sexo diferencia atitudes, crenças e códigos numa determinada sociedade.

A sociedade ocidental é historicamente marcada pela intensa produção e reprodução de hierarquias e desigualdades pautadas nas diferenças de gênero. A nossa cultura produz e reproduz tradições que sustentam as diferenças, as desigualdades e a determinação dos papeis sociais de homem e mulher nos mais distintos espaços sociais, construindo limites ao que cabe a cada um (a) na atuação frente o meio social. 

Sabemos que toda e qualquer desigualdade é construída culturalmente a partir das expectativas que a sociedade institui para os sujeitos, todavia é também neste espaço de disputa de poder, de discriminações, opressões, em que a mulher corriqueiramente é inferiorizada, que a sua luta se fortalece.


Rago (2003) analisando sobre o crescimento da participação das mulheres nas mais diversas esferas da sociedade brasileira, fala sobre a ocupação dos espaços públicos antes reservados apenas aos homens, alertando que tal crescimento deve-se especialmente ao surgimento a nível mundial do movimento feminista, o qual se constituiu como uma demarcação na história das mulheres que assinalou significativas rupturas com o passado.

Almeida (2010) aponta que:

O movimento feminista e as campanhas pelos direitos da mulher, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX, com o movimento das sufragistas que reivindicavam o direito ao voto, se configuraram em marcos importantes e norteadores das lutas políticas voltadas para a mulher e as relações de gênero, contribuiu para mudar a situação da mulher na sociedade, tentando eliminar as discriminações a que ela está sujeita. Surgiu justamente da luta por uma educação voltada para o público e não para o privado (doméstico), com maiores oportunidades de acesso, ampliação do mercado de trabalho, salários e direitos trabalhistas iguais aos dos homens e maior proteção à maternidade. (p.02 - 03).
  
O movimento feminista e sua luta contra a opressão machista, os códigos da sexualidade feminina e dos modelos de comportamento impostos pela sociedade se desenvolveram no Brasil em um cenário de tensão, efervescido pela ditadura militar, se constituiu em um contexto entre a crise e a construção de novos modelos de subjetividade e logrou uma reformulação na feitura e investigação da história, buscando lançar luz a participação das mulheres na vida em sociedade e na protagonização de processos históricos.

 Há um grande avanço da conquista social da mulher no que diz respeito aos direitos, todavia, há muito a ser mudado. A mulher vem conquistando gradativamente seu espaço no mercado de trabalho, seu espaço no meio acadêmico, na política, mas nossa cultura de modo geral ainda demarca como tarefa essencialmente feminina os afazeres domésticos e a educação dos (as) filhos (as) às mulheres, são apontadas como subalternas se comparada as masculinas, como sinalizam Soihet, Soares e Costa (2000):

“as tarefas domésticas jamais são mistas. Os gestos em torno da água, do fogo e do preparo dos alimentos são gestos femininos que os homens não podem praticar sem desvalorização. (...) Tomando-se, por exemplo, o caso da agricultura, a divisão técnica do trabalho entre homens e mulheres (os homens lavram, semeiam; as mulheres colhem, tiram as ervas daninhas) pode ser analisada em termos de complementaridade, caso permaneça somente no nível técnico. Mas no momento em que a sociedade camponesa codifica e valoriza diferentemente esta complementaridade técnica, “lavrar-semear” são trabalhos nobres,enquanto “tirar ervas daninhas-colher” são trabalhos subalternos. A complementaridade torna-se um princípio de hierarquização dos papéis, e tem-se, na verdade, uma relação com uma complementaridade de subordinação, ou “de oposição complementar”, que não apaga as divergências e convergências de interesses, as desigualdades de direitos, as relações contraditórias entre homem e mulher na relação do casal. (p. 06-07)

 Percebemos que ainda hoje as conquistas das mulheres estão em consolidação, pois o pensamento androcêntrico e conservador são fortemente produzidos e reproduzidos na nossa sociedade e consequentemente respaldadas pela nossa cultura hegemônica, a desigualdade no mercado de trabalho através das diferenças salariais e de oportunidades, o surto cada vez maior de violência contra mulher, a dupla ou tripla jornada de trabalho e o acirramento de classes imposto pelo imperialismo exercem forte pressão sobre as mulheres. Tal perspectiva é endossada por Almeida (2010) que aponta:

Apesar das conquistas de direitos das mulheres e sua participação nos espaços públicos, na primeira metade do século XXI, são registrados altos índices de desigualdades entre homens e mulheres e a perpetuação da violência contra mulher. (...) Esse contexto de modo geral, acaba por afirmar e reafirmar a cultura da superioridade masculina sobre a feminina e revelar que para a efetivação de políticas e práticas de gênero e a emancipação da mulher é preciso enfrentar várias barreiras que marcam esse cenário. (p. 03-04)
  
É preciso, pois mudanças na mentalidade, na educação e na forma como a sociedade culturalmente concebe os papéis sociais de gênero. Apesar da elaboração de políticas públicas de saúde, educação, trabalho e renda, construídas no sentido de garantir igualdade entre mulheres e homens, ainda assistimos cenas de barbárie onde a mulher é apenas uma mercadoria humana – sendo vendida, acorrentada, castigada e morta – assemelhando-se ao tratamento dado aos (as) escravizados (as) na era do colonialismo.

O que nos sugere que no cenário que se apresenta no século XXI, é preciso que o aporte emancipatório seja expandido e que cada vez mais as mulheres, jovens, meninas ou adultas vivenciem a independência feminina e a possam conquistar verdadeiramente a equidade de direitos e oportunidades, essas conquistas e reflexões precisam chegar a toda à mulher independente da posição financeira ou acadêmica, é essencial que cada mulher tenha construída em si a consciência sobre seu papel.

Direito ao voto, direito a educação, direito a se manifestar publicamente, direito de ir e vir, direito sobre seu corpo e sexualidade. A mulher deixou de ser tutelada e vem logrando sua emancipação tem rompido as barreiras do machismo, do sexismo, lutando por romper toda forma de dominação ao seu exercício de cidadania.

Enquanto mulher militante fazendo parte de uma sociedade em que até mesmo dentro do movimento social é preciso fazer enfrentamentos rumo à desconstrução do machismo e do sexismo, acredito claramente que ainda existam muitas coisas para conquistar e consolidar, as mudanças até então alcançadas sinalizam diferenciações nos hábitos e costumes da sociedade brasileira e a feminilização da cultura ocidental, construindo novas formas de pensar e agir nos espaços públicos e privados, tais mudanças transformaram e transformam e hão de transformar o cotidiano e comportamento de toda sociedade partindo do pressuposto de que toda mudança cultural reflete na mudança de atitudes.
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Referências
ALMEIDA. Welita Gomes de. Gênero e deficiência: a exclusão social de mulheres deficientes.2010. IN: Anais do II Seminário Nacional Gênero e Práticas culturais. Disponível em:http://itaporanga.net/genero/gt4/13.pdf Acesso em 27.03.2012
RAGO, Margarete. Os feminismos no Brasil: dos anos de chumbo a sociedade globalizada. 2003. Disponível em:
SOIHET, Rachel; Soares, Rosana e Costa, Suely (trad). A História das mulheres. Cultura e poder das mulheres. Ensaio de Historiografia. Revista Gênero. NUTEG. – Vol.2, no.1 (2 sem.2000). Niterói:Eduff, 2000  pp.7-30.    http://www.marilia.unesp.br/Home/Pesquisa/cultgen/Documentos/historia_das_mulheres_nuteg.pdf
SPM. Secretaria Especial de Políticas para mulheres. Gênero e Diversidade na Escola: formação de professoras/es em gênero, orientação sexual e relações étnico-raciais. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.
[1] Mestranda em Educação UEFS; Pedagoga; Militante do Coletivo O Estopim e do Coletivo Kiu!



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