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sábado, 31 de março de 2012

O 31 de Março deveria ser feriado

Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:
 
Deveríamos transformar o 31 de Março em feriado nacional. Talvez assim possamos garantir que esse dia nunca seja encarado por nós e, principalmente, pelas gerações que virão como um grande Primeiro de Abril, como se o golpe de 1964 nunca tivesse existido.

Cicatriz que não deveria ser escondida mas permanecer como algo incômodo, à vista de todos, funcionando como um lembrete. Não vivemos três décadas de piada, apesar da elite militar e parte da elite econômica do país terem rido muito às custas de quem pedia liberdade e democracia nos Anos de Chumbo.

Pouco me importa o que pensam os verde-oliva da reserva que tomam seu uísque nos Clubes Militares enquanto, saudosos, lançam confetes ao Dia da Revolução (sic). Demonstrações de afeto a um período autoritário são peça de museu, então que fiquem, democraticamente, com quem faz parte do passado. Mas eles precisam saber que, desta vez, a História não vai ficar com a versão dos golpistas. E que o mundo que eles ajudaram a construir, mais cedo ou mais tarde, vai embora com eles. Não por vingança, mas por Justiça.


Em nome de uma suposta estabilidade institucional, o passado não resolvido permanece nos assombrando. Seja através de um olhar perdido da mãe de um amigo que, da janela, permanece a esperar o marido que jaz no fundo do mar, lançado de helicóptero. Seja adotando os métodos desenvolvidos por eles para garantir a ordem e o progresso.


Durante a ditadura, os militares armaram uma farsa para encobrir o assassinato do jornalista Vladimir Herzog. A explicação trazida à público, de suicídio na cela, não convenceu e a morte de Vlado tornou-se símbolo na luta contra o regime. Mas fez escola.


Tempos atrás, aqui em São Paulo, um homem de 39 anos foi encontrado enforcado pouco mais de duas horas depois de ter sido preso. Supostamente, era traficante e transportava cocaína. Supostamente, teria se enforcado usando um cadarço de sapato. Questionado por jornalistas se não é praxe da polícia retirar os cadarços de sapatos de presos, um policial afirmou que o acusado usou um pedaço de papelão para arrastar um cadarço que estava fora da cela. Seria cômica se não fosse ofensiva uma justificativa dessas.


Como aqui já disse, o impacto de não resolvermos o nosso passado se faz sentir no dia-a-dia dos distritos policiais, nas salas de interrogatórios, nas periferias das grandes cidades, em manifestações, nos grotões da zona rural, com o Estado aterrorizando ou reprimindo parte da população (normalmente mais pobre) com a anuência da outra parte (quase sempre mais rica). A verdade é que não queremos olhar para o retrovisor não por ele mostrar o que está lá atrás, mas por nos revelar qual a nossa cara hoje.


Lembrar é fundamental para que não deixemos certas coisas acontecerem novamente. Que o governo tenha a decência de instalar urgentemente a Comissão da Verdade que, mesmo esvaziada na versão em que foi aprovada, trará um pouco de luz às trevas. Que o Supremo Tribunal Federal considere que crimes contra a humanidade, como a tortura, não podem ser anistiados, nunca. Que a história dos assassinatos sob responsabilidade da ditadura seja conhecida e contada nas escolas até entrar nos ossos e vísceras de nossas crianças e adolescentes a fim de que nunca esqueçam que a liberdade do qual desfrutam não foi de mão beijada.


Mas custou o sangue, a carne e a saudade de muita gente.
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sexta-feira, 30 de março de 2012

Anistia: jovens desmoralizam os militares e os partidos


Os jovens melaram um ato de militares no Clube Militar no Rio, que se transformou no Panteão da Tortura, nos Invalides.

Esses são os mesmos  jovens que sairam às ruas para pichar a casa dos torturadores.

Aparentemente, segundo o Globo, na pág. 13, o confronto no Rio teve a adesão de representantes do PT, PCB, PCdoB, PSOL e PDT, além de “outros movimentos sociais de esquerda”.

Mesmo assim, parece claro que os jovens foram para as ruas confrontar os torturadores do regime militar independente e a despeito dos partidos políticos.

E do PiG (*).

No mesmo dia em que a OEA submeteu o Brasil a uma nova sessão de vergonha e escárnio, com a abertura de processo pela morte de Vladimir Herzog, os jovens fazem o que os partidos não fizeram: rasgar a Lei da Anistia nas ruas.

(A OEA já considerou a Lei da Anistia do Brasil um deboche às normas do Direito que se respeitam no mundo civilizado. E isso, amigo navegante, apesar da inesquecível defesa da Lei da Anistia feita, na Corte da OEA, pelo notável jurista Sepulveda Pertence. Uma página para a História da Liberdade no Brasil !)

Como se sabe, Eric Hobsbawn não se iguala aos historialistas brasileiros – que não fazem História nem Jornalismo – e muito menos aos colonistas (**) do PiG.

Mas, recentemente, Hobsbawn deu uma entrevista à BBC para explicar a “primavera árabe”.

Clique aqui para ler.

Ali, foram para a rua derrubar os tiranos os  jovens de classe média ascendente, educados, munidos de tecnologia e independente de partidos políticos formais.

Depois, como pondera meu amigo Miro Borges, presidente do Barão de Itararé (que quer um programa igualzinho ao da Folha (***) na TV Cultura), depois que os jovens forem para as ruas, quando as cabeças começarem a rolar, aí é preciso chamar os partidos.

Mas, depois.

Por enquanto, a batalha contra a Lei da Anistia do Ministro Eros Grau tem que ser travada pelos que não precisam obedecer à disciplina paralisante dos partidos.

E à mediocridade de seus líderes.

Com eles, o general Nilton Cerqueira, um dos heróis do Clube Militar, que executou o Lamarca,  pode levar levar os netinhos ao shopping, numa boa.
 
Paulo Henrique Amorim
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(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.


(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (*) que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.


(***) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.
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Levante pela Verdade

No Rio, militares comemoram golpe de 64, e manifestantes protestam


quarta-feira, 28 de março de 2012

Em vídeo Lula agradece apoio após cura do câncer

O "jornalismo" de emboscada

Por Nilton José Dantas Wanderley
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Não acredito em jornalismo imparcial. Todo mundo tem lado. Por ação ou omissão. Há quem diga não ter lado, sobretudo nossa “mui digna” grande imprensa. Mas todo mundo tem lado, sim. Apenas alguns se escondem atrás dos muros – sem falar nos que ficam em cima – e afirmam não ter. Até onde vai a liberdade de informar? A liberdade de expressão tem limites? Se sim, quais?

Nenhum direito é absoluto. Mesmo o capitalismo, que tem na propriedade privada sua pilastra-mãe de sustentação, não tem a propriedade privada como um direito absoluto. Por que, então, a liberdade de expressão não pode ou não deve ser regulamentada? Pode, sim. Óbvio que sem a miragem totalitária de querer legislar sobre conteúdo. A imprensa não pode ser o cálice sagrado de Indiana Jones, que quem toca morre, é amaldiçoado ou se arrebenta todo. Nada se discute sobre ela sem que venha uma chuva de articulistas do latifúndio midiático falar em atentado à liberdade de imprensa. Aliás, o mesmo latifúndio que aplaudiu o golpe que censurou jornais, revistas e TVs.

Pode o CQC enfiar goela abaixo um microfone na cara de um parlamentar/cidadão e obrigá-lo a conceder uma entrevista? Claro que não. É prerrogativa do cidadão/parlamentar conceder ou não uma entrevista. Cabendo a ele o ônus ou o bônus de querer falar ou não com a imprensa. Este “jornalismo” de emboscada nos corredores do Congresso Nacional não pode criar a “entrevista compulsória”, uma modalidade totalitária travestida de jornalismo. É “custe o que custar”, é vale-tudo em forma de emboscadas nos corredores do Congresso? Custa perguntar ao parlamentar ou ao cidadão se deseja ou não conceder uma entrevista? Ou o CQC entende que o parlamentar/cidadão é obrigado a conceder uma entrevista?

Obcecado pelo trabalho

Tratar o Congresso como uma casa de tolerância, ao contrário do que muita gente pensa, não é uma atitude politizada. Jogar todos os congressistas na vala comum, demonizando a política, é um viés retrógrado e conservador de nossa mídia. Quebrar ou fragilizar nossas instituições não é um bom negócio pra ninguém. O Congresso é uma amostra da sociedade. E como tal, tem gente boa e gente ruim. Tem gente que trabalha e gente vagabunda. Gente honesta e gente corrupta, entre outros atributos. Assim como todos os setores da sociedade, inclusive nossa “mui digna” grande imprensa.

A atitude do deputado Luiz Couto (PT-PB) em arrancar o microfone do “emboscante” do CQC foi, no máximo, um desabafo de quem acha que tem o direto de conceder ou não uma entrevista. Talvez tenha faltado molejo ao deputado pra deixar o repórter falando sozinho e se ocupar de seu trabalho. Coisa que o deputado faz e muito ciosamente. É o primeiro a chegar e o último a sair.

Em tempo: Trabalhei cinco anos em Brasília no gabinete do deputado Luiz Couto (PT-PB). Nunca vi alguém tão disciplinado e obcecado para o trabalho. Chega cedo e sempre é o último a sair. Esta virtude ninguém arranca dele.

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[Nilton José Dantas Wanderley é bacharel em Ciências Sociais]
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Ultradireita tenta reagir à pressão pela Comissão da Verdade

A convocação de oficiais aposentados para um ato público em favor da ditadura, nesta quinta-feira às 15h, no Rio de Janeiro, horário semelhante aos dos manifestantes que tomarão a Cinelândia em uma manifestação de apoio à Comissão da Verdade, ganha contornos de uma paródia ao enfrentamento nos moldes conhecidos durante os Anos de Chumbo. Um dos militares que participaram da ditadura, o general aposentado Luiz Eduardo Rocha Paiva (foto) diz que o Brasil teve poucas pessoas torturadas.
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Correio do Brasil
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(*) Publicado originalmente no Correio do Brasil.

Rio de Janeiro
- A convocação dos oficiais aposentados para um ato público em favor da ditadura militar, nesta quinta-feira às 15h, horário semelhante aos dos manifestantes que tomarão a Cinelândia em uma manifestação de apoio à Comissão da Verdade, ganha contornos de uma paródia ao enfrentamento nos moldes conhecidos durante os Anos de Chumbo. Por e-mail, em mensagens apócrifas, militares afastados das tropas por alcançar idades acima dos 65 anos, apresentar problemas de saúde ou psicológicos, usam dos velhos jargões dos governos ditatoriais na tentativa de convocar simpatizantes a uma campanha denominada Brasil acima de tudo.

Com base no manifesto em que os sócios do Clube Militar, instituição ligada à ultradireita, com sede no Centro da cidade, tentaram pressionar – sem sucesso – a presidente Dilma Rousseff para não seguir adiante com as investigações de abusos e tortura de prisioneiros durante o regime de 64, os indivíduos que já não usam mais a farda e passam o tempo entre uma e outra conspiração contra a democracia, apelam aos aliados daquela era na tentativa de arregimentar apoiadores à palestra do general Luiz Eduardo Rocha Paiva, figura conhecida nos porões dos antigos Doi-Codi e Cenimar, centros de referência na tortura e morte de prisioneiros políticos no Brasil.


“Creio ser um assombro a luta de alguns poucos no sentido de abrirem os olhos da sociedade! Eles serão mártires ou heróis desta luta insana! De qualquer forma, que Deus os ilumine pela verdadeira guerra que fazem com as armas da crítica e do esclarecimento. Se cometerem algum erro, que tenham a certeza, ele será irrelevante no contexto do bom combate que travam, pois seu alerta está sendo dado!”, diz o texto, apócrifo, do “chamamento” que distribuem na web. Segundo os organizadores, policiais alinhados à extrema direita, integrantes de clubes de serviço que, na época da ditadura, apoiaram o regime militar, membros do grupo fascista Tradição, Família e Propriedade (TFP) e maçons que apoiaram o regime imposto pela força das armas deveriam ser convocados para comparecer ao Clube Militar.


Na mensagem, ditam como cada um dos ex-integrantes das Forças Armadas deveria atuar, na busca de mobilizar alguns incautos para uma reação à Comissão da Verdade.


“1 – Para tirar cópia do chamamento (…) na copiadora – 15 minutos. Quem preferir gastar alguns centavos, tire cópias no comércio local e distribua pelo menos nas caixas de correspondência de seus edifícios.


“2 – Quantos parentes sem e-mail já foram contatados pelo telefone? – 30 minutos;


“3 – Já telefonaram ou passaram e-mails para os conhecidos das (sic) polícias militares? – 15 minutos;


“O “LIONS” e o “ROTARY” da cidade já estão por dentro da campanha, telefonema ou e-mail? 10/15 minutos;


“4- A “loja maçônica” da cidade já está por dentro da campanha, telefonema ou e-mail? – 10/15 minutos”.


A mensagem, sem nenhuma assinatura, em tom de ameaça, alega ainda que os antigos militares não podem “entregar o ouro ao bandido vermelho, de graça”, talvez em referência à ação guerrilheira do Partido Comunista do Brasil e de outras vanguardas revolucionárias da resistência, que terminaram por determinar o fim da ditadura no país, com o apoio de toda a sociedade civil.


Ainda segundo o texto, “depende das comunicação que vocês lograrem, por e-mail ou telefone, com os “LlONS’, ‘ROTARY’, ‘lojas maçônicas’, ‘TFP’ e assemelhados”, sem citar o que seriam estes últimos.


Sem dentes

Para alguns dos organizadores da manifestação, convocada pelas redes sociais em uma mensagem transmitida, por vídeo, pelo cineasta Silvio Tendler, essas “manifestações malucas que circulam pela internet” não significam um perigo real para a realização do ato convocado para as 14h, em frente ao Clube Militar, na Avenida Rio Branco, nesta quinta-feira.

– São leões sem dentes. Rugem, fazem barulho, mas já não mordem mais ninguém – concluiu um dos ativistas, que prefere não se identificar “para não jogar mais lenha na fogueira”.


Procurado pelo
Correio do Brasil, o presidente do Clube Militar, general aposentado Renato Cesar Tibau da Costa, sequer respondeu às ligações.
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Pelo direito à memória e à verdade, pela abertura dos arquivos da ditadura.


terça-feira, 27 de março de 2012

O topônimo do Rio Paraíba

Rio Mamanguape
Vanderley de Brito*

Com 380km de curso e uma bacia de 18.000Km2, toda em território paraibano, o Paraíba é o rio mais extenso do Estado. Nasce com o nome de Rio do Meio, segue por 10km até receber o da Serra e o Sucuru, quando o conjunto passa a chamar Paraíba, e vai engrossando ao receber afluentes como o Taperoá, Bodocongó, Surrão, Bacamarte, Paraibinha, Gurinhém, Curimataú, Gargaú, Una, Tibiri, e Sanhauá, além de outros sem grande expressão.

Por volta de 1506, quando Tristão da Cunha descobriu o rio Paraíba, este tomou o nome de São Domingos. Pois era praxe entre os ibéricos nomear os lugares de acordo com o santo do dia, por isso a data em que este expedicionário da Coroa descobriu a foz do Paraíba deve ter sido 04 de agosto, por ser este dia em que se comemora o referido santo. Contudo, o nome dado pelos portugueses ao Rio não foi suficientemente forte para sobrepor o topônimo indígena tradicional e em poucos anos já figurava em documentos o termo “Paraíba” para definir o Rio.

O topônimo Paraíba, segundo Antônio Victoriano Freire, procede diretamente de apara= árvore de madeira resistente e iba= abundância, e faria referência ao pau-d’arco. No entanto, a tradução não procede uma vez que o termo, cuja pronúncia correta é “guaparayba”, quer dizer “mangue vermelho de beira-mar”. O termo até poderia ser coerente se fizesse referência ao pau-brasil, que havia abundantemente ao longo do baixo curso deste rio, de madeira vermelha e largamente explorado nesta região por comerciantes portugueses e corsários franceses com ajuda dos nativos. Entretanto, os mangues são compostos por árvores dos gêneros Rhizophora, Laguncularia e Avicennia, Nem o pau-brasil e muito menos o pau-d’arco são árvores de áreas justamarítimas sujeitas às marés. 
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Ainda sob a perspectiva vegetal, alguns outros querem que o nome do rio esteja relacionado à espécie Marupá (Simarouba amara), árvore de madeira branca e leve que é empregada para caixotaria e forros, pois esta árvore da família das simarubáceas também é conhecida pelos vocábulos tupi: paraíba, praíba, papariúba, marupaúba. Contudo, o topônimo “Paraíba”, dado ao grande rio que desemboca no Cabedelo, só faria sentido dizer respeito a esta espécie arbórea caso a mesma se apresentasse em abundância ao longo de seu baixo curso. O que parece não ocorrer, pois é muito presente na Amazônia, aparecendo também nas regiões da Bahia, Alagoas e Pernambuco em menor escala. Na Paraíba esta árvore não se apresenta de forma significativa e, sendo de madeira fraca e susceptível aos cupins, não foi de importância comercial no período colonial a ponto de denominar um rio.

Excluída a possibilidade do topônimo “Paraíba” fazer referência a uma espécie vegetal, também há estudiosos, como Coriolano de Medeiros e Horácio de Almeida, que defendem vir o termo de pará= mar ou rio e iba= braço. Assim, o termo “braço de mar” estaria de acordo com o fato do Paraíba ser um rio que se comunica com o mar, tão largo que chega a parecer um braço de mar.
Contudo, se o termo tivesse a intenção de dizer “braço de mar”, não seria então “paraíba”, mas “paragibe”. Pois o termo “pará” tanto pode querer dizer “rio caudaloso” como “mar”. Já o termo “ibá” quer dizer enseada, angra ou recôncavo e não “braço de mar”. Portanto, esta junção léxica traduziria redundância, porque uma baía, tecnicamente, é mar. Então, bastava a palavra “ibá”.

Devemos salientar também que a foz do Paraíba não está numa enseada ou baía, mas sim num cabedelo, e também não é demais lembrar que entre as diversas variantes em que se registra o termo Paraíba nos documentos antigos, encontramos: Parajba, Paraíba e Parajua no século XVI; e Parayba, Paraíba, Paraiva, Parayva, Paraíua, Parahiba, Praíba e Praiva, no século XVII. Portanto, não há nenhum que possa se associar por aproximação ao termo paragibe.

Pois bem, no início do século XVII o governador holandês da Capitania, Elias Herckmans, que conviveu com indígenas, atribuiu a significação de “Paraíba”, do tupi, como “rio mau”. Da mesma opinião foram também Teodoro Sampaio e Leon Clerot. Todos querendo sugerir que o rio Paraíba seria de má navegação. Contudo, considerar o rio Paraíba imprestável para a navegação está fora de propósito, uma vez que este rio no período colonial era perfeitamente navegável até a região de Pilar. Especialmente para as pirogas dos nativos que, sem dúvidas, foram quem atribuíram o topônimo.

A idéia de que Paraíba (de pará= rio e aíba= ruim) quisesse se referir a inviabilidade de transportes fluviais por este rio deve sua interpretação a Elias Herckman que, como todo europeu, via na Capitania apenas as possibilidades econômicas. Natural que tenha entendido que “rio mau ou ruim” aludia alguma dificuldade ou empecilho no processo de fiscalizar ou escoar a produção de açúcar.

Se formos analisar o termo “aíba” do vocábulo tupi, veremos que não está necessariamente associado à condição de desfavorável ou inexeqüível, mas sim a condição de cruel ou tirano. Podemos tomar de exemplo o termo “caraíba”, de cari-aíba, denominação que os nativos davam aos brancos invasores de suas terras e que quer dizer “estrangeiro mau”. Certamente os indígenas não estavam dizendo que os europeus eram maus no sentido de acesso ou negócios, mas sim porque matavam e preavam índios, queimavam suas aldeias e tomavam suas terras. Outro exemplo é o termo “araíba”, que quer dizer “mau tempo” ou “tempo ruim”. O termo não se refere a tempo chuvoso, que seria impróprio para sair caçar, pescar ou plantar, pois tempo chuvoso eles denominavam “amãbytu”. Portanto o termo “araíba” se refere aos períodos de doenças, pragas e castigos. Ou tempo do mau.

Particularmente, concordo que o termo “Paraíba” vem de “pará= rio caudaloso e aíba= mau”, mas, ao invés de rio intrafegável, creio que o termo desta junção queira se referir às características do rio denominado Paraíba por ser de água em abundância (caudaloso) e de um histórico intempestivo e traiçoeiro (mau). Ou seja, o termo “mau” se refere as cheias extraordinárias que no decurso da história fizeram do rio Paraíba um implacável destruidor. 
Datas como 1641, 1698, 1718, 1728, 1731 o imprevisível Paraíba saiu destruindo engenhos, casas, roçados e canaviais, matando gados e pessoas. Na cheia de 1789, o rio Paraíba esteve tão forte e impiedoso que trouxe arrolando na torrente uma cruz de madeira, até hoje ninguém sabe de onde veio o cruzeiro, e deixou-a encalhada nas ruínas de antigo povoado ribeirinho próximo ao engenho

Espírito Santo, aonde depois viria nascer a cidade de Cruz do Espírito Santo.
Depois vieram as terríveis inundações de 1919, a de 1924 que levou o engenho Saboeira e a ponte da Batalha, e a avassaladora torrente de 1947. Estas cheias corriam impetuosamente carregando tudo que tinha pela frente, elevando as águas do Rio em até 9 metros. As cheias mais recentes foram as de 1985 e 2004, no entanto menos vorazes devido o Açude de Boqueirão que, depois de construído, passou a reter grande parte da força do Rio.

Colérico, o Paraíba também deve ter sido ao longo de sua pré-história, destruindo roçados, aldeias e matando gente e talvez era visto e cultuado entre os indígenas como um deus impiedoso, não é despropósito supor que inúmeros rituais de apaziguamento certamente lhe foram dedicados no curso da pré-história. Portanto, não seria nenhuma novidade para os indígenas a malíssima índole deste implacável rio.

Em julho de 2001 estive na nascente deste monstro, numa caminhada de 8km subindo a serra de Jabitacá, por entre o denso juremal que reveste a encosta das margens do Rio porque, o leito, repleto de gigantes blocos graníticos rolados e árvores altaneiras, impossibilitava caminhar ali.

A nascente fica num alcantilado entre as serras de Jabitacá e Bulandeira, um desnível em meio à floreta nativa, pouco menos de 200m do dorso onde as serras se fundem. O nascedouro, escondido entre cipós e lianas entrelaçadas, se configura num profundo cacimbão. Denuncia a presença humana naquele inóspito uma rústica escada de madeira colocada para oferecer acesso ao lençol freático, amarelecido e salobro, no fundo do poço. O terrível Paraíba, ali em sua nascente, tão tímido e impotente, nem parece aquele imprevisível e avassalador monstro raivoso que o homem primitivo muito propriamente denominou de “Rio Mau”.
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segunda-feira, 26 de março de 2012

A Imprensa Paulista na Ditadura (1964-1985)

O golpe e a ditadura militar

Brasil não era um país feliz antes do golpe de 1964. Mas era um país que dava sequência a um ciclo longo de crescimento econômico, impulsionado por Getúlio, como reação à crise de 1929. Nos anos prévios ao golpe era um país que começava a acreditar em si mesmo. Quem toma com naturalidade agora a Copa do Mundo de 1958 não sabe o quanto ela foi importante para elevar a auto estima dos brasileiros, que carregavam, desde o fatídico 16 de julho de 1950, o trauma do complexo de inferioridade.

Mas isso veio junto com a bossa nova, o cinema novo, o novo teatro brasileiro, um clima de expansão intelectual por grandes debates nacionais, pela articulação com grandes temas teóricos e culturais que começavam a preparar o clima da década de 1960.

O país nao foi surpreendido pelo golpe. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial militares que tinham ido à Italia tinham se articulado estreitamente com os EUA. Na sua volta, liderados por Golbery do Couto e Silva e por Humberto Castelo Branco, fundaram a Escola Superior de Guerra e passaram, a partir dali, a pregar os fundamentos da Doutrina de Segurança Nacional – concepção norteamericano para a guerra fria -, que cruzou a história brasileira ao longo de toda a década de 1950 até, depois de várias tentativas, desembocar no golpe de 1964 que, não por acaso, teve naqueles oficiais da FFAA seus principais líderes.

Durante a década de 1950 o Clube Militar foi o antro a partir do qual articulavam golpes contra o Getúlio – seu inimigo fundamental, pelo nacionalismo e por suas políticas populares e articulação com o movimento sindical. O suicídio do Getulio brecou um golpe pronto e permitiu as eleições de 1955, em que novamente os golpistas foram derrotados.

Fizeram duas intentonas militares fracassadas contra JK e elegeram Jânio, com a velha e surrada – mas sempre sobrevivente, até hoje – bandeira da corrupção. Se frustraram com a renúncia deste e naquele momento tentaram novo golpe, valendo-se do vazio da presidência e da ausência do Jango, em viagem para a China. A mobilização popular e a atitude do Brizola de levantar em armas o Rio Grande do Sul na defesa da legalidade, impediram e adiaram o golpe.

Mas os planos golpistas não se detiveram e acabaram desembocando em primeiro de abril de 1964 no golpe, que contou com amplo processo de mobilizações da classe média contra o governo, com participação ativa da Igreja católica, da mídia, das entidades empresariais, que desembocou na ação da alta oficialidade das FFAA, que liquidou a democracia que o Brasil vinha construindo e instaurou o regime do terror que passou a vigorar no Brasil.

Foi o momento mais grave de virada regressiva da história brasileira. Interrompeu-se o processo de democratização social, de afirmação econômica e política do pais, para impor a opressão econômica e politica, a subordinação externa, mediante uma ditadura brutal. O país, sob o comando dos militares, da Doutrina de Segurança Nacional, do grande empresariado nacional e internacional, do governo dos EUA, optou por um caminho que aprofundou suas desigualdades sociais, colocando o acento no mercado externo e na esfera de alto consumo do mercado, no arrocho salarial, na desnacionalização da economia e na opressão militar.

Completam-se 48 anos do golpe militar. Continua sendo hora de perguntarmos a todos: Onde você estava no momento mais grave de enfrentamento entre democracia e ditadura? Cada um, cada força politica, cada empresário, cada órgão da imprensa, cada igreja, cada militar. Os temas continuam atuais: denuncismo moralista a serviço do enfraquecimento do Estado, abertura escancarada da economia, resistência às políticas sociais e aos direitos do povo, uso da religião contra a democracia republicana e o caráter laico do Estado, uso da mídia como força politica da direita, etc. etc.

Que seja uma semana de reflexão e de ação politica. Que o governo finalmente nomeie os membros da Comissao da Verdade e que não passemos mais um primeiro de abril sem apurar tudo o que o regime de terror impôs pela força das botas e das baionetas ao país e que a democracia faça triunfar a verdade.
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Gravações mostram associação criminosa da revista Veja com o bicheiro Carlinhos Cachoeira


Operação Monte Carlo chegou na Veja

por Luís Nassif

Não haverá mais como impedir a abertura das comportas: a Operação Monte Carlo da Polícia Federal, sobre as atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, chegou até a revista Veja.
As gravações efetuadas mostram sinais incontestes de associação criminosa da revista com o bicheiro. São mais de 200 telefonemas trocados entre ele e o diretor da sucursal de Brasilia Policarpo Jr.
Cada publicação costuma ter alguns repórteres incumbidos do trabalho sujo. Policarpo é mais que isso.
Depois da associação com Cachoeira, tornou-se diretor da sucursal da revista e, mais recentemente, passou a integrar a cúpula da publicação, indicado pelo diretor Eurípedes Alcântara. Foi um dos participantes da entrevista feita com a presidente Dilma Rousseff.
Nos telefonemas, Policarpo informa Cachoeira sobre as matérias publicadas, trocam informações, recebe elogios.
Há indícios de que Cachoeira foi sócio da revista na maioria dos escândalos dos últimos anos.

 

Mexicanos pedem ao Papa para reconhecer casos de pedofilia encobertos pela Igreja


Os mexicanos que denunciaram os abusos sexuais alegadamente cometidos pelo fundador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel (1920-2008), pediram no sábado ao Papa Bento XVI que reconheça a responsabilidade da Igreja no encobrimento deste caso.
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Os mesmos cidadãos pediram ainda a Bento XVI que afirme que “nunca mais” será tolerada a pedofilia.
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Em 1999, o ex-sacerdote Alberto Athié enviou a Bento XVI (naquela data cardeal Ratzinger), por intermédio do bispo mexicano Carlos Talavera, uma carta na qual denunciava actos alegadamente pedófilos de Marcial Maciel, que foi recebida no Vaticano e nunca teve resposta.
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O ex-sacerdote considera que com Bento XVI à frente da Igreja, “só ele e mais ninguém do que ele pode dar um caminho diferente a este tremendo problema” dos abusos sexuais de menores, “este holocausto de milhares de meninas e meninos que foram abusados em muitas partes do mundo”.
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“Com isto não lhe pedimos que cometa um acto anticristão. É a raiz da consciência cristã”, referiu Alberto Athié.
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A jornalista Carmen Aristegui referiu que esta chamada de atenção a Bento XVI ganha pertinência por ser feita um dia antes de o Papa dar uma missa no Parque Bicentenario de Guanajuato, neste domingo, onde são esperadas 600 mil pessoas.
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Algumas vítimas dos abusos sexuais, alegadamente cometidos por sacerdotes no México, lamentaram, entretanto, a recusa de Bento XVI em reunir-se com eles durante a sua visita de três dias ao país, que começou no sábado e termina na segunda-feira.
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“É lamentável que não o queira fazer, infelizmente faz com que o próprio Papa seja cúmplice deste tipo de crimes”, afirmou, em declarações à agência EFE, uma das vítimas, Joaquín Aguilar Méndez.
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Encontros deste género aconteceram nos Estados Unidos e na Austrália, em 2008, em Portugal e em Malta, em 2010, e na Alemanha, no ano passado. 
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domingo, 25 de março de 2012

O Na Trincheira agora é Diário do Cezar Miranda


Alô galera, o meu blog mudou de nome e layout. O Na Trincheira agora é Diário do Cezar Miranda. Mudou nome e layout, mas o conteúdo permanece o mesmo, servindo como uma mídia alternativa, sempre na trincheira diária tentando fazer o contraponto a ditadura da informação, dando um olhar diferente aos fatos.

As provas do roubo de bebês durante a ditadura argentina

O arrazoado das Avós da Praça de Maio no julgamento do roubo de bebês durante a ditadura argentina, que será apresentado segunda-feira (26), mostrará as provas reunidas na busca dos netos sequestrados. Em reportagem especial, o jornal Página/12 apresenta parte dessas provas compostas por documentos, papeis oriundos da burocracia, memorandos secretos, análises de DNA, cartas de familiares, testemunhos de sobreviventes e confissões de repressores perante juízes. O artigo é de Victoria Ginzberg y Alejandra Dandan.
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Victoria Ginzberg y Alejandra Dandan - Página/12.

Buenos Aires - Victoria Montenegro, Catalina de Sanctis Ovando, Francisco Madariaga, Macarena Gelman, Simón Riquelo, Alejandro Pedro Sandoval, Leonardo Fosatti, Juan Cabandié, Claudia Poblete, os irmãos Antole Boris e Victoria Eva Julien Grisonas e outras 95 crianças sequestradas durante a última ditadura que recuperaram sua identidade são a prova mais forte e palpável do plano de apropriação de crianças. Mas as análises de DNA, suas histórias (à medida do possível) recuperadas não são a única coisa que demonstra a existência daquela prática de terrorismo de Estado que os executores tornaram sistemática e aperfeiçoaram. Há documentos, papeis oriundos da burocracia, memorandos secretos e cartas de familiares. E há palavras, testemunhos de sobreviventes e confissões de repressores perante juízes, e de apropriadores frente aos filhos que supunham seus aliados.

Estas evidências recolhidas durante anos de investigação foram finalizadas no processo contra oito repressores que nesta semana entra em sua etapa final. Depois das marchas que as organizações dos direitos humanos, agremiações políticas, estudantis e sociais estão fazendo hoje, na data do golpe militar de 24 de março de 1976, na segunda-feira os advogados das Avós da Praça de Maio começarão seu arrazoado e darão conta de todos esses fatos, que permitirão sustentar a acusação contra Jorge Rafael Videla, Reinaldo Benito Bignone, Santiago Omar Riveros, Jorge Acosta, Antonio Vañek, Jorge Azic, Rubén Franco e o médico Jorge Luis Magnacco.
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Leia na íntegra aqui

sábado, 24 de março de 2012

Argentina: o terror mais brutal


O golpe argentino – que hoje completa 36 anos – foi o mais brutal, assim como a ditadura que instalou, de todos os que viveram a região. Fechou o cerco dos regimes de terror que assolou o Cone Sul do continente, em quatro dos países onde o campo popular era mais forte e ameaçava mais a dominação das elites tradicionais e do imperialismo sobre a América Latina.

A Argentina tinha sofrido um golpe similar ao brasileiro, em 1966, que deveria realizar programa paralelo ao da ditadura brasileira. Mas a resistência popular impediu e as elites argentinas tiveram que promover uma transição à democracia, depois que o golpe fracassou.

Veio a eleição de Perón, em 1973, na contramão do que acontecia na região – do golpe de 1964 no Brasil, aos golpes desse mesmo ano no Uruguai e no Chile. O período histórico tinha mudado, Perón ja não teria investimentos externos da Europa, o pais languidesceu até o novo golpe, o de 1976, desta vez mais selvagem que os anteriores – de 1955 e 1966.

Videla e a alta oficialidade argentina receberam os balanços que lhes mandavam os militares golpistas do Brasil e do Chile. O uso brutal da tortura (contribuição brasileira com o pau-de-arara como tecnologia inovadora), evitar o Estadio Nacional, como mandou dizer Pinochet, para contornar campanhas internacionais pela libertação de presos. Tornar assim sistemático o fuzilamento e o desaparecimento dos corpos.

Isso a ditadura argentina fez com esmero. À maior força da luta popular, mais repressão. 30 mil mortos e desaparecidos, massacres, fuzilamentos, torturas – foi a síntese mais avançada dos regimes de terror da região. Com requintes de crimes de lesa humanidade, inéditos: como o sequestro dos filhos dos presos e fuzilados pela ditadura, crianças entregues a outras famílias, via de regra de militares, para adoção.

Como a ditadura de 1966 tinha fracassado, a de 1976 enfrentou a recessão mundial, levando a Argentina a um profundo retrocesso econômico, promovendo a hegemônica do capital financeiro, pelas desregulamentações que promoveu. Começou mais tarde que as outras, mas não sobreviveu além do fim dos seus congêneres. Demorou menos no poder, mas assassinou muito mais – como atesta a lista de suas vítimas no Parque da Memória, em que se concentram uma quantidade impressionante de mortes nos anos 1975, 76 e 77.

A ditadura foi sucedida pela democratização nos anos 80, pela crise da dívida e pelo neoliberalismo. Mas a luta da Mães da Praça de Maio e do povo argentino permitiu que a anistia promulgada pela ditadura fosse superada e os argentinos tem, pelo menos, o consolo de ver a Videla e a vários dos seus colegas cumprindo penas em presídios comuns, via de regra de prisão perpétua.

Nada que permita ressarcir todo os danos e sofrimentos impostos ao país e ao povo. Mas pelo menos a justiça tem sido cumprida, para que nunca mais se esqueça, para que nunca mais aconteça.

quarta-feira, 21 de março de 2012

A janela e o espelho

A mais importante função da teoria nos nossos tempos é a de historicizar a realidade, isto é, a de demonstrar como toda realidade é produto da ação – consciente ou inconsciente – dos homens, revelar como foi produzida, quem a produziu, para desembocar em como pode – e deve – ser desarticulada e reconstruída conforme a ação consciente dos seres humanos.

O mecanismo mais alienante de todos hoje é o da naturalização do mundo: as coisas são como são, não podem ser diferentes, a pobreza, a miséria, as catástrofes sempre existiram e sempre existirão. Os próprios pobres não querem sair da sua pobreza. Os países pobres sempre foram e sempre serão pobres. A riqueza é produto do trabalho, do empenho, da seriedade de alguns países, enquanto o atraso é resultado de mentalidades retrogradas, de gente que não gosta de trabalhar, de preguiçosos.

Não por acaso, no auge do seu ufanismo, ideólogos do sistema capitalista proclamaram o “fim da história”. Houve história até o momento em que festejavam sua vitória. A partir dali se teria chegado ao suprassumo do desenvolvimento humano – economia capitalista de mercado e democracia liberal -, insuperável patamar da felicidade e da realização da civilização.

O capitalismo seria o ponto de chegada natural da história e a burguesia sua encarnação. A pós-modernidade é a teoria dessa visão. O abandono das grandes narrativas representa a renúncia à compreensão dos processos contemporâneos, que já não seriam nem possíveis, nem necessários. Faz parte de um ceticismo profundo, que marca esse pensamento e que contribui para o fatalismo.

A pós-modernidade se define contra a totalidade, contra a teleologia e contra o utopismo, sob o pretexto de lutar contra o totalitarismo e os reducionismos. Renuncia assim às grandes interpretações de compreensão global da realidade, mais ainda aos projetos de sua transformação. Contribuem para naturalizar a realidade.

Compreender o mundo é, sobretudo, historicizá-lo, entender como ele foi constituído da forma que o conhecemos e como a ação humana reproduz essa realidade. Para poder captar a forma pela qual é possível desmontar e reconstruir de outra forma essa realidade.

Dessa maneira podemos olhar a realidade não desde uma janela, como algo alheio a nós, mas como um espelho, reflexo da ação humana.
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Ruralistas fracassam em votação da PEC 215

Indo de encontro mais uma vez à orientação do Palácio do Planalto, setores da base governista em aliança com a oposição tentaram aprovar na CCJ da Câmara a PEC que transfere, do Executivo para o Congresso, o poder de demarcar terras indígenas e quilombolas e de criar unidades de conservação ambiental. Com o plenário lotado, sobretudo por indígenas, PT, PV, PSB e PSOL esticaram ao máximo a sessão e, ao final, colocaram-se em obstrução. 

terça-feira, 20 de março de 2012

A fé como negócio

Por Cezar Miranda
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Não é de hoje que instituições religiosas usam a fé como elemento de prosperidade [prosperidade das igrejas] ou como fonte para enriquecimento ilícito dos seus ‘lideres’. Historicamente, podemos perceber esse “fenômeno” [a fé como negócio] com mais clareza no final da idade média durante o Pontificado do Papa Leão X, quando a igreja católica negociava a venda de indulgências, ou seja, o perdão papal pelos pecados.
 
Baseada na lógica capitalista onde a influência do capital e das forças de mercado é predominante e alteram as relações sociais e de trabalho, os pseudo-religiosos, na maioria das vezes líderes de denominações religiosas, viram na lógica desse sistema econômico uma grande oportunidade para obterem lucro e aumentar o seu patrimônio. Tais igrejas são denominadas 'Igrejas da prosperidade'.

Aproveitando-se da vulnerabilidade e da complexidade características do ser humano e de uma “sociedade doente” cada vez mais egocêntrica e mesquinha, os “profetas do dinheiro”, usam bem a ‘teologia da prosperidade’ e da boa fé dos fieis para aumentar a arrecadação financeira e construir seus “impérios”.

Estamos acompanhando uma verdadeira “guerra santa”, ou melhor, uma guerra pelo controle dos fieis, entre o autodenominado apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus e o também autodenominado Bispo Edir Macedo da IURD.  Ambos se digladiam numa luta para ver quem mantém [nesse segmento religioso] o controle das mentes dos fieis, dos espaços midiáticos e consequentemente do mercado religioso.

Fazendo um paralelo, essa luta “sangrenta” parece mais uma luta entre máfias, onde o mestre ensinou todas as características de uma organização criminosa ao seu discípulo e ele o trai, rompe com seu mentor e cria outra organização, atitude que desperta o ódio do ex-chefe que meticulosamente planeja a sua vingança. É só lembrar que Valdemiro Santiago é ex-bispo da Universal e ex-aliado de Macedo, rompeu com ele para fundar a Igreja Mundial do Poder de Deus, e assim controlar todo o capital financeiro advindo das contribuições dos fieis.

Vamos ver até onde vai essa briga desses “mercadores da fé”, pelo controle dos fieis, que nesse contexto são tratados como mercadorias e como fonte que sustentam o mercado da fé através do seu bolso? A religião, mais do que nunca, continua sendo o ópio do povo.
 
Quanto maior o império maior a extorsão para mantê-lo!
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